Mudanças na expectativa de vida mostram como países lidaram com a pandemia
Estudo publicado na Nature Human Behavior teve como base dados sobre mortes de 29 países, entre 2015 e 2021
Importante indicador sanitário, a expectativa de vida é frequentemente usada para comparar a saúde pública entre os países. A pandemia de Covid-19 mudou os índices de várias nações nos últimos dois anos, em função de como os governos lidaram com o problema e cuidaram de suas populações. Um estudo publicado na Nature Human Behaviour, mostrou que, após um declínio global em 2020, sete países da Europa Ocidental tiveram um aumento incompleto, mas significativo, do índice em 2021, enquanto nos Estados Unidos, Chile e na maior parte da Europa Oriental o declínio continuou.
Liderado por Jonas Schöley, do Instituto Max Planck para Pesquisa Demográfica, na Alemanha, o levantamento tem como base dados sobre mortes de 29 países, entre 2015 e 2021, para estimar as mudanças na expectativa de vida. As tendências divergentes citadas acima ilustram como algumas populações foram mais gravemente afetadas pela pandemia do que outras no ano passado.
Os cientistas descobriram que, em 2021, França, Bélgica, Suíça e Suécia viram a expectativa de vida voltar aos níveis pré-pandemia. Já em outros países da Europa Ocidental essa recuperação foi parcial. Mas vários países – incluindo os EUA, Chile e da Europa Oriental (exceto Eslovênia, que teve um aumento parcial) – continuaram a ver uma queda em seus índices.
De acordo com José Manuel Aburto, demógrafo da Universidade de Oxford, que participou da pesquisa, perdas de expectativa de vida da magnitude observada durante a pandemia não são comuns. Assim, diz ele, uma queda no índice reflete a ineficiência em reduzir a mortalidade. “Existem muitas variáveis que afetam a mortalidade, por exemplo, sistema de saúde, fatores sociais etc”, escreveu ele, em resposta a VEJA. “No entanto, o fato de muitos países ainda não apresentarem recuperação em 2021 é reflexo do manejo inadequado da pandemia e da falta de intervenções de saúde pública para mitigar o impacto da crise da Covid-19.”
Aburto afirmou que o Brasil não foi incluído na pesquisa porque os dados na época do estudo não estavam disponíveis. No entanto, continuou ele, em grandes países como Brasil e México, a pandemia afetou diferentes regiões. No caso brasileiro, as regiões ao norte tiveram as maiores quedas na expectativa de vida em 2020, muito em função de eventos como a crise do oxigênio, da variante gama e dos baixos índices de vacinação. “Em muitas delas, houve perdas maiores do que relatamos em nossa pesquisa”, escreveu ele. “A vacinação em 2021 foi um grande fator para mitigar o aumento da mortalidade durante a pandemia, e as evidências sugerem que as regiões onde a vacinação foi oportuna, rápida e eficaz, tiveram as menores quedas na expectativa de vida.”
Além de ter causado mortes, a pandemia também interrompeu os sistemas sociais, econômicos e de saúde, o que pode levar a crises sanitárias de longo prazo em alguns países mais afetados. “Portanto, se as desigualdades foram exacerbadas durante a pandemia, a recuperação pode não ser imediata e pode levar mais tempo”, avalia Aburto. Da mesma forma, evidências de consequências de longo prazo da Covid-19, por exemplo, a Covid longa, torna prováveis as perspectivas de potenciais impactos na saúde futura da população.
Para o cientista, os países precisam concentrar esforços no controle das mortes por Covid-19. “Mas também em intervenções oportunas e eficazes que protejam oas populações mais vulneráveis”, disse ele.