Mudanças climáticas contribuíram para forte calor na Europa
Temperaturas extremas tiveram uma importante contribuição do impacto humano, deixando Portugal e Espanha dez vezes mais suscetíveis às ondas de calor

As extremas ondas de calor que estão afetando a Europa tiveram uma importante contribuição das mudanças climáticas ocasionadas pelo impacto humano, afirmam cientistas. Em estudo divulgado nesta quinta-feira, climatologistas identificaram que em Portugal e Espanha, que sofreram drásticos incêndios, por exemplo, a probabilidade de altas temperaturas aumentou dez vezes por conta das aumento de emissões do efeito estufa. “Encontramos fortes e claras ligações entre o calor recorde deste mês e mudanças no clima causadas pelo homem”, afirmou o climatologista Geert Jan van Oldenborgh, pesquisador do Royal Netherlands Meteorological Institute (KNMI), na Holanda e um dos autores da pesquisa.
O estudo foi conduzido pelo World Weather Attribuition (WWA), projeto que calcula o papel das mudanças climáticas em eventos climáticos extremos e é coordenado pela ONG Climate Change, que reúne diversos cientistas, universidades e institutos que monitoram o clima. Nele, os recordes de temperatura de países da Europa ocidental foram comparados com com modelos climáticos que simulam o efeito de emissões de gases do efeito estufa na temperatura.
De acordo com os resultados, as ondas de calor de junho elevaram a média de temperaturas mensais na Europa está cerca de 3ºC acima do normal observado de 1981 a 2010. Apesar destes eventos extremos serem comuns e esperados com o clima atual, ocorrendo de cada dez a trinta anos, os pesquisadores alertam que a temperatura está aumentando mais rápido do que o esperado. “Recordes locais mostram uma clara tendência de aquecimento, ainda mais rápida do que nos modelos climáticos nos quais simulamos os efeitos da queima de combustíveis fósseis, a variabilidade solar e mudanças no uso da terra”, explica van Oldenborgh em comunicado da WWA.
Além de Portugal e Espanha, os cientistas identificaram que o centro da Inglaterra, França, Holanda e Suíça tiveram um aumento de quatro vezes na probabilidade de ondas de calor por conta das mudanças climáticas.
Segundo o climatologista Robert Vautard, pesquisador do Laboratory of Climate and Environmental Sciences (LSCE), que também participou do estudo, se as emissões de carbono não diminuírem, as ondas de calor serão normais até 2050. “Meses quentes não são mais raros no nosso clima atual. Atualmente, esperamos que esse tipo de onda de calor extremo que vimos em junho venham de cada dez a trinta anos. Mas, até metade deste século, esses extremos vão se tornar a normalidade para o mês na Europa ocidental, a menos que tomemos medidas imediatas pata reduzir as emissões dos gases que causam o efeito estufa”, afirmou em comunicado da WWA.
A pesquisadora da Universidade de Oxford, Friederike Otto, que também participou do estudo, alerta para o risco à saúde que o calor extremo pode trazer. “Ondas de calor podem ser mortais, especialmente para crianças muito novas e para os idosos. É fundamental que cidades trabalhem com cientistas e especialistas de saúde pública para desenvolver planos de ação. A mudança climática está tendo impactos em comunidade neste momento e planos como este salvam vidas”, disse Friederike.
O estudo ainda não passou por revisões e nem foi publicado em uma revista científica. Dessa forma, maiores análises científicas são necessárias para determinar os fatores que estão contribuindo para as altas temperaturas do verão europeu.