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Megaexplosões solares podem ter sido a fonte da vida na Terra, diz estudo

Série de experimentos mostra como as partículas da estrela podem resultar em blocos básicos da construção orgânica

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 Maio 2023, 18h23

Teorias sobre o que teria catalisado a vida na terra é o Santo Graal dos cientistas . No final do século XIX, surgiu a conhecida teoria da sopa primordial. Nela, cientistas especularam que os primeiros sinais de vida poderiam ter surgido em um pequeno lago quente, onde havia inúmeros compostos químicos que, energizados por raios, calor e outras fontes de energia, se misturaram em concentrações suficientes para formar moléculas orgânicas. 

Em 1953, um experimento feito na Universidade de Chicago tentou recriar em laboratório as condições primitivas teorizadas no século anterior. Em uma câmara fechada, colocaram metano, amônia, água e hidrogênio molecular, energizados com faíscas que simulavam raios. Uma semana depois, 20 aminoácidos diferentes teriam surgido. Agora, cientistas afirmam que os raios podem não ter sido, afinal, os grandes responsáveis por nossas moléculas ancestrais. Mas o Sol.   

De acordo com um estudo publicado na Revista Life, os primeiros elementos da vida na Terra podem ter se formado a partir de erupções solares. Uma série de experimentos reproduzidos em laboratório mostram como as partículas solares, colidindo com os gases da atmosfera primitiva, podem resultar em ácidos carboxílicos, blocos básicos da construção de proteínas e da vida orgânica. 

O astrofísico da Nasa, Vladimir Airapetian, usando dados da missão Kepler, foi o primeiro a sugerir o sol como fonte de energia inicial da vida. A missão Kepler observou estrelas distantes, que estavam em diferentes fases do seu ciclo de vida, e que davam indícios de como nosso Sol era no passado. Em 2016, o astrofísico sugeriu que nossa estrela maior era cerca de 30% mais escura, mas as chamadas “superflares” – super erupções solares que, hoje,  acontecem uma vez a cada 100 anos ou mais – eram muito mais frequentes, acontecendo em intervalos de 3 a 10 dias. Essas explosões lançam partículas próximas à velocidade da luz, que colidem na atmosfera do planeta e iniciam reações químicas. 

Airapetian juntamente com o professor Kensei Kobayashi, da Universidade Nacional de Yokohama, no Japão, criaram uma mistura de gases que remonta à atmosfera da Terra primitiva como a entendemos hoje – estudos posteriores mostraram que ela era ligeiramente diferente do experimento inicial de Chicago. Eles combinaram dióxido de carbono, nitrogênio molecular, água e uma quantidade variável de metano. Isso porque a proporção exata de metano ainda é incerta, mas acredita-se que seja baixa. Nesses elementos, os pesquisadores dispararam uma mistura de gás com prótons (simulando partículas solares) ou eletrizaram com descargas de faíscas (simulando relâmpagos), tentando replicar o experimento de 1953, para fins comparativos. 

Em cenários em que a presença de metano era superior a 0,5%, as “partículas solares” produziram quantidades detectáveis de aminoácidos e ácidos carboxílicos. Com os “relâmpagos”, a produção de aminoácidos só acontecia com uma concentração de cerca de 15%, e mesmo assim, a produção foi um milhão de vezes menor do que com os prótons, que também tendiam a produzir mais ácidos carboxílicos (um precursor dos aminoácidos) do que aqueles inflamados por descargas de faíscas. Esses experimentos sugerem que nosso jovem Sol ativo poderia ter catalisado os precursores da vida mais facilmente, e talvez antes, do que se supunha anteriormente.

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