PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Continua após publicidade

Mayflower: o primeiro barco autônomo está zarpando

Cientistas tentam refazer a rota histórica do navio, inaugurando assim uma nova era tecnológica para a navegação

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 13h29 - Publicado em 2 jul 2021, 06h00

Em 16 de setembro de 1620, o Mayflower zarpou da Inglaterra com destino ao Novo Mundo, transportando 102 peregrinos e inaugurando a colonização do país que viria a ser os Estados Unidos. Quatrocentos anos depois, no mesmo dia e no mesmo porto britânico de Plymouth, de onde a antiga embarcação se lançou ao Atlântico, um novo Mayflower, completamente diferente daquele, foi oficialmente batizado. Dessa vez, porém, a missão desbravadora é outra: nos próximos dias, a nau inaugurará uma nova era nas navegações, sem passageiros nem tripulação, viajando de forma completamente autônoma.

Quatro séculos atrás, o Mayflower era um navio quase todo de madeira, com 30 metros de extensão, três mastros e velas de lona, que navegava a uma velocidade média de 6 quilômetros por hora. Já o novo modelo é feito de liga de alumínio, tem 32 metros de extensão, painel de energia solar e gerador de reserva a diesel, e é capaz de navegar três vezes mais rápido. E o mais relevante: é controlado por inteligência artificial, concebida pelo gigante IBM, que está conectada a seis câmeras e trinta sensores, o que dispensa supervisão de bordo, fazendo dele um veículo marítimo inovador.

O Mayflower do século XXI é efetivamente guiado pela tecnologia, e não por pessoas — mais especificamente por um software que analisa informações vindas de radares, satélites e outros equipamentos que ajustam seu percurso e velocidade, evitando colisão com outras embarcações. O sistema tem como objetivo principal comprovar a viabilidade de navios sem assistência humana. Para chegar ao local que hoje constitui o estado de Massachusetts, na costa nordeste dos Estados Unidos, os peregrinos do século XVII singraram 5 600 quilômetros em dois meses. No novo barco, o mesmo percurso levará apenas três semanas, sem a necessidade de marujos e oficiais. E, na verdade, sem peregrinos também.

arte navio

Ao refazer a jornada histórica, o reluzente Mayflower não só provará sua capacidade de navegação autônoma, como também coletará informações da vida marinha, monitorando constantemente a temperatura e os níveis de sal e oxigênio das águas, além de verificar a existência de microplásticos poluentes no mar. Outro dispositivo especial são os microfones, que captarão sons emitidos por baleias encontradas pelo caminho. A coleta de dados científicos é capitaneada pela empresa de pesquisa oceânica ProMare, que investiu mais de 1 milhão de dólares na construção do Mayflower. A Universidade de Plymouth e a IBM também ajudaram a financiar o projeto.

Continua após a publicidade

Apesar de toda a tecnologia e cuidados, o grau de aventura do projeto é inequívoco — sujeito, evidentemente, a contratempos, chuvas e trovoadas. Poucos dias depois da primeira partida do porto de Plymouth, em 15 de junho, com 10% do percurso já concluído, um problema no gerador a diesel forçou o retorno da embarcação à Inglaterra para reparo e, até 29 de junho, o barco aguardava sinal verde para zarpar novamente. É interessante lembrar que o Mayflower original também teve de voltar ao porto algumas vezes antes de se lançar definitivamente em alto-mar, o que fez com que os peregrinos quase desistissem da viagem. “Barcos quebram com frequência, e o nosso não seria exceção”, declarou Brett Phaneuf, diretor do projeto, diante da ocorrência.

Embora os percalços existam, a empolgação com o Mayflower e com outros barcos do tipo não arrefeceu. “Embarcações autônomas são tendência mundial e, no momento, estamos vivendo o limiar dessa tecnologia”, afirma Hélio Mitio Morishita, professor do departamento de engenharia naval e oceânica da Poli-USP. Segundo Morishita, a inteligência artificial, quando empregada em navios comerciais, dará origem a uma frota que terá impacto no transporte mundial, com redução de custos de mão de obra.

Com os últimos avanços, a tecnologia já tornou automatizados e semiautônomos alguns processos de carga e descarga nos portos mais avançados. Porém, a fim de receber grandes embarcações conduzidas exclusivamente por softwares, essas tecnologias precisam ficar ainda melhores. Até agora, depois de alguns anos de testes, existem dificuldades técnicas e legais a superar antes de pôr para rodar os aguardados carros autônomos. Imagine o tamanho do problema quando se trata de cargueiros e petroleiros de 10 000 toneladas. Para chegar lá, as esperanças estão depositadas no sucesso de embarcações como o moderno Mayflower. Assim como a sua versão histórica, ele pode ficar marcado como o navio pioneiro de uma grande mudança.

Publicado em VEJA de 7 de julho de 2021, edição nº 2745

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.