Lobo-terrível: o que diz a cientista-chefe da startup que quer reviver animais extintos
Bióloga e paleogeneticista Beth Shapiro, professora da Universidade da Califórnia, é também diretora científica da Colossal

A bióloga e paleogeneticista Beth Shapiro, professora da Universidade da Califórnia, ganhou notoriedade internacional por seu trabalho na área da “desextinção”, um campo que busca reverter a extinção de plantas e animais através da biotecnologia. Como diretora da startup americana Collossal, ela está à frente dos projetos de trazer de volta à vida o mamute lanoso, o tigre-da-Tasmânia, o dodô e o lobo-terrível. Em seu livro Brincando de Deus (Contexto), lançado no Brasil em 2023, Shapiro defende o uso de ferramentas biotecnológicas como sequenciamento genético e edição de genes para a preservação e manutenção da vida no planeta.
Na época do lançamento do livro, Shapiro compartilhou suas perspectivas sobre a desextinção e o papel do DNA nesse processo. Em entrevista a VEJA, ela enfatizou a complexidade dos organismos vivos, dizendo que a extinção de um ser vivo é irreversível. “Em contrapartida, todo organismo é mais do que apenas seu DNA”, disse ela. Para Shapiro, a mera replicação do DNA de uma espécie extinta não seria suficiente para trazer de volta o mesmo animal, pois cada organismo é moldado por experiências únicas ao longo de sua vida e pelas condições ambientais. Ela ilustra essa ideia comparando a tentativa de reviver um mamute lanoso a criar um híbrido de um elefante asiático adaptado ao Ártico, observando que, sem o habitat adequado, o animal seria diferente de seus ancestrais.
No cerne de sua argumentação em Brincando de Deus, Shapiro explora como a humanidade tem alterado a natureza ao longo de milênios e como a biotecnologia moderna representa um novo capítulo nessa interação. Ela discute o potencial da engenharia genética para a conservação, mencionando a possibilidade de criar sistemas de comando genético para eliminar espécies invasoras ou até mesmo ressuscitar espécies extintas para restaurar ecossistemas. Contudo, Shapiro também reconhece os riscos inerentes a essas intervenções, ecoando a prudência de ecologistas preocupados com a possibilidade de “brincar de Deus” e alterar deliberadamente o curso da evolução.

Um tópico sensível abordado no livro é a edição de genes humanos. Embora Shapiro se mostre contrária à ideia de usar essa técnica para criar seres humanos “superiores”, ela pondera sobre o potencial da edição genética para tornar os humanos mais resistentes a vírus, como uma resposta a futuras pandemias. “É assim que vamos embarcar na edição de genes humanos, mas não com a ideia fantasiosa de criar alguém com habilidades sobre-humanas ou beleza física excepcional”. Shapiro ressalta a importância da responsabilidade na aplicação da biotecnologia, seja para reviver animais extintos ou para proteger a saúde humana.

Beth Shapiro converge na defesa de uma intervenção biotecnológica consciente e responsável na natureza. Ela nos convida a considerar nosso papel como agentes de mudança no planeta e a explorar o potencial das novas tecnologias para a preservação da vida, ao mesmo tempo em que nos alerta para as complexidades éticas e ecológicas que acompanham esse poder.