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James Watson, que ajudou a descobrir a estrutura do DNA, morre aos 97 anos

Cientista americano estava em um centro de cuidados paliativos, em Nova York, para onde foi transferido de um hospital onde tratava uma infecção

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 nov 2025, 17h23 - Publicado em 7 nov 2025, 16h55

O cientista americano James Watson, que revolucionou a biologia ao participar da descoberta da estrutura do DNA, morreu na quinta-feira, 6, em Nova York, aos 97 anos. A informação foi confirmada pela família. Watson estava em um centro de cuidados paliativos, após ser tratado de uma infecção hospitalar. Sua morte encerra a trajetória de um dos intelectuais mais celebrados e, posteriormente, condenados do século XX, cujo legado é uma complexa mistura de genialidade científica e declarações racistas profundamente prejudiciais.

Nascido em Chicago em 1928, Watson demonstrou desde cedo um aguçado interesse pela natureza, que logo se canalizou para a genética. Sua formação acadêmica, concluída com um doutorado em Zoologia pela Universidade de Indiana em 1950, foi o prelúdio para o momento que definiria sua carreira. Foi em 1951, durante um simpósio em Nápoles, que Watson teve seu “estalo” genial: ao ver uma imagem de difração de raios X do DNA, capturada pelo laboratório de Maurice Wilkins no King’s College London, ele percebeu que a chave para a vida estava na estrutura da molécula.

Transferindo-se para o Laboratório Cavendish, em Cambridge, Watson uniu-se a um colega de mentalidade similar, o físico britânico Francis Crick. Juntos, embarcaram em uma corrida para desvendar a arquitetura do DNA. O trabalho, porém, não foi realizado em um vácuo. Baseou-se criticamente em dados experimentais – sem seu conhecimento ou consentimento – da brilhante cristalógrafa Rosalind Franklin, também do King’s College. Maurice Wilkins mostrou a Watson a famosa “Fotografia 51” de Franklin, uma imagem excepcionalmente nítida que forneceu a pista crucial.

Em abril de 1953, Watson e Crick publicaram na revista Nature o artigo de uma página que abalou o mundo: “Molecular Structure of Nucleic Acids: A Structure for Deoxyribose Nucleic Acid”. Eles propuseram o modelo da dupla hélice, uma estrutura em forma de escada retorcida que explicava com elegância como a informação genética é armazenada e replicada. A descoberta rendeu-lhes, juntamente com Maurice Wilkins, o Prêmio Nobel de Medicina de 1962. Franklin, que faleceu em 1958, não foi elegível para a honraria, e seu papel fundamental só foi amplamente reconhecido anos depois, em parte devido ao relato tendencioso de Watson em seu livro de memórias de 1968, A Dupla Hélice, onde a retratou de forma depreciativa.

Uma queda ética

A carreira de Watson continuou em ascensão. Ele lecionou em Harvard e, posteriormente, tornou-se uma figura central no Projeto Genoma Humano. Por décadas, ele dirigiu o prestigioso Laboratório Cold Spring Harbor (CSHL), onde já havia trabalhado.

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No entanto, foi nessa fase final de sua vida que Watson manchou irreversivelmente seu próprio legado. Em 2007, ele foi forçado a se aposentar do CSHL após declarar à imprensa que era “pessimista em relação às perspectivas para a África” porque “todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que sua inteligência é a mesma que a nossa – enquanto todos os testes dizem que não é realmente assim”. Essas afirmações, que equiparavam inteligência a raça, foram universalmente condenadas pela comunidade científica, que rejeita veementemente o uso da genética para justificar o racismo.

O ostracismo científico que se seguiu foi tão profundo que, em 2014, Watson leiloou sua medalha do Nobel para compensar a perda de renda. Apesar de o artefato ter sido comprado e devolvido a ele por um magnata, sua reputação não se recuperou. Em um documentário de 2019, ele reafirmou suas visões racistas, declarando que as diferenças em testes de QI entre brancos e negros eram genéticas. Como resposta, o Cold Spring Harbor Laboratory emitiu uma nota repudiando formalmente suas declarações como “infundadas e imprudentes”, destituiu Watson de todos os seus títulos honorários e cortou todos os laços com o cientista, condenando explicitamente o uso da ciência para promover o preconceito.

A morte de James Watson fecha o capítulo de uma vida de contrastes extremos: a de um homem cuja curiosidade intelectual desvendou um dos segredos fundamentais da vida, mas cujo caráter foi ofuscado por um preconceito que sua própria ciência ajudou a desacreditar.

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