Homofobia no passado pode fazer NASA rebatizar projeto no presente
Abaixo-assinado pede que o nome de James Webb, ex-diretor da agência espacial americana, seja removido do telescópio que será lançado em novembro
Uma das mais esperadas contribuições da NASA à ciência foi atrasada pela pandemia. Porém, se não houver mais imprevistos, ela deverá decolar até o fim do ano. Trata-se do mais avançado telescópio já fabricado, cujo objetivo maior é ampliar as fronteiras do conhecimento humano sobre o universo, seus sistemas estelares, suas galáxias e, em última instância, sua origem. O novo observatório orbital infravermelho foi criado para ir muito além do que já foi revelado pelo telescópio Hubble, em operação há mais de 30 anos. A polêmica que cerca o aparelho, no entanto, não está relacionada a seu custo estratosférico (quase 9 bilhões de dólares) nem a sua tecnologia de alta precisão, mas sim ao nome escolhido para batizá-lo: James Webb, diretor da agência espacial americana de 1961 a 1968, acusado agora de preconceito contra homossexuais nos anos 1950 e 1960
A escolha de Webb, na verdade, nunca foi unanimidade na comunidade científica, uma vez que ele não foi astronauta nem cientista, categorias preferidas para batizar naves e instalações aeroespaciais. Seu nome, entretanto, foi escolhido pela reputação que ele forjou como administrador e o afinco com que defendia junto ao Congresso americano o investimento em ciência, particularmente no projeto Apollo, que levaria o homem à Lua em julho de 1969.
Apesar de sua reconhecida capacidade como gestor — o programa espacial teria sido cancelado depois da morte de três astronautas em 1967 se não fosse pela intervenção incisiva de seu diretor—, ele é acusado de perseguição a homossexuais que trabalhavam para agências do governo americano. Segundo reportou o periódico científico Nature, a NASA estaria conduzindo uma investigação independente que possa comprovar ou refutar as alegações antes do lançamento do telescópio em 31 de outubro. Um abaixo-assinado, capitaneado por quatro renomados astrônomos, pedindo que o nome de Webb seja definitivamente removido, já conta com 1 250 assinaturas. Os responsáveis por organizar o documento afirmam que existe prova documental da interferência de Webb para barrar e prejudicar gays e lésbicas desde que ele começou a trabalhar para o governo no final dos anos 1940.
De acordo com historiadores que estudam as agências governamentais americanas no período após a Segunda Guerra Mundial, o preconceito contra homossexuais era latente e, muitas vezes, manifestado em diretrizes por escrito. O telescópio que empresta o nome de James Webb está sendo fabricado há anos e sofreu incontáveis atrasos por causa do orçamento bilionário e, mais recentemente, pela escassez de componentes provocada pela pandemia. Até que o caso seja elucidado, porém, o nome permanece, bem como a contagem regressiva para lançamento.