Hod Lipson: “Os robôs já pensam”
Professor de engenharia na Columbia participa do desenvolvimento de androide com autoconsciência - por enquanto, ele diz, não há por que temer a inovação
Autoconsciência é uma característica demasiado humana. Como um robô obtém essa condição sem ser programado? Há mais de dez anos trabalhamos estudando esses sistemas. Na tentativa mais recente, que virou um artigo na revista Science Robotics, pusemos um androide na frente de uma câmera. Ele, então, se moveu em várias direções para criar um modelo de si mesmo. Não se trata de pensar no futuro distante, mas em como mover um braço para pegar um objeto, ou como mover um braço e não tocar um objeto. Conseguimos fazê-lo pensar por alguns segundos.
Qual a novidade a ser celebrada, então? Foi a primeira vez que um robô criou um modelo de si mesmo, sem a ajuda de um humano. Quando você era bebê e estava se mexendo no berço, tocando seu corpo e os brinquedos, estava criando um modelo de si mesmo. Fazemos isso de forma autônoma, não somos programados: “Este é o seu braço, este é o seu pé”. Agora, permitimos que o robô faça isso espontaneamente. Se um robô, um animal ou um humano tem um modelo de si mesmo mais preciso, ele pode funcionar melhor no mundo, pode tomar melhores decisões.
Até que ponto essa autonomia é perigosa? É uma tecnologia poderosa. Existe uma regra na robótica à qual o escritor Isaac Asimov meio que aludiu em seus livros: quanto mais autonomia o robô tem, mais poderoso é e mais utilidade tem. Mas quando perdemos o controle a coisa pode ficar ruim. Trata-se de uma troca, como com as crianças. Quanto mais velhas elas ficam, mais capazes são e mais controle perde-se como pai. Queremos que o carro autônomo tome decisões por si mesmo, queremos que saiba quando está quebrado ou quando não está funcionando corretamente. Queremos que essas máquinas cuidem de si mesmas, mas também não queremos que saiam do controle de forma perigosa. É preciso encontrar esse equilíbrio. Não há uma resposta fácil.
O que as pessoas não conseguem entender sobre inteligência artificial? Na IA existem grandes redes neurais que absorvem enormes quantidades de informações de sensores e de câmeras e calculam a cada milissegundo todas as probabilidades de movimentos. Se não tivermos carros sem motorista, as pessoas continuarão morrendo nos acidentes de trânsito. Por isso não dá para ser só a favor ou contra os robôs, ou a favor ou contra a IA. Temos de ver os prós e os contras de cada situação.
Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813