Fóssil humano de 1800 anos conta a história da luta entre um gladiador e um leão
Descoberta foi feita em um antigo cemitério romano na Inglaterra e fornece a primeira prova física de combates entre humanos e feras nas arenas do Império
Por Ligia Moraes
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23 abr 2025, 17h30
Obra retrata gladiadores em combate com animais selvagens em espetáculos públicos da Roma Antiga. Essas cenas ilustram práticas descritas em textos históricos, agora confirmadas por evidências arqueológicas. (Sofoklo/Shutterstock.com/Reprodução)
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Durante uma escavação em York, no Reino Unido, pesquisadores identificaram marcas de mordida de um grande felino — provavelmente um leão — no osso do quadril de um homem enterrado há cerca de 1.800 anos. A descoberta, publicada na revista PLOS ONE, representa a primeira evidência física de que gladiadores realmente enfrentaram feras em arenas do Império Romano, algo até então conhecido apenas por registros históricos e representações artísticas.
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O esqueleto, chamado de 6DT19, foi encontrado em meio a outros mais de 80 indivíduos em um cemitério romano escavado em 2004, durante uma obra residencial. A maioria dos enterrados era de homens jovens, com ossos marcados por traumas e, em muitos casos, decapitações. Inicialmente, cogitou-se que fossem soldados ou escravizados, mas os traços de lesões curadas e os padrões de sepultamento sugeriram outra hipótese: seriam lutadores de arena.
Marcas de mordida no ílio da vítima, parte do osso pélvico (Thompson et al., PLOS ONE, 2025/Reprodução)
Como os cientistas confirmaram o ataque do leão?
Para testar a hipótese de que as marcas nos ossos foram causadas por um felino, os pesquisadores analisaram carcaças de animais que haviam sido alimentadas a leões e outros grandes predadores em zoológicos britânicos. Com escaneamentos 3D e modelagens de luz, mapearam os padrões de mordidas recentes e os compararam com os traços encontrados no esqueleto romano. O resultado foi claro: as mordidas correspondiam às deixadas por um leão.
Apesar da ferida no quadril não parecer fatal — leões geralmente atacam o pescoço ao matar —, os cientistas acreditam que o gladiador estava já ferido ou imobilizado quando foi mordido, talvez durante o próprio combate. A ausência de cicatrização indica que os ferimentos ocorreram no momento da morte ou logo depois.
Perfuração no osso pélvico da vítima, provavelmente causada pelo dente de um leão. (Thompson et al., PLOS ONE, 2025/Reprodução)
Por que essa descoberta importa?
Embora as lutas entre homens e animais selvagens tenham sido largamente documentadas na iconografia e na literatura da Roma antiga, nenhum outro esqueleto gladiador conhecido apresentava sinais claros de ataques por animais. Isso tornava difícil comprovar se os relatos antigos eram precisos ou exagerados. A descoberta em York, longe do centro do Império, reforça que essas práticas ocorriam também em províncias distantes, e não apenas nas arenas monumentais como o Coliseu.
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