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Físico Marcelo Gleiser é o primeiro brasileiro a vencer o prêmio Templeton

Honraria, que concede valor monetário superior ao do Nobel, costuma agraciar líderes religiosos ou acadêmicos que conciliam ciência e espiritualidade

Por Da redação
Atualizado em 19 mar 2019, 12h19 - Publicado em 19 mar 2019, 11h55

O físico brasileiro Marcelo Gleiser foi anunciado nesta terça-feira, 19, como vencedor do Prêmio Templeton, considerado o “Nobel da espiritualidade”. A honraria, entregue desde 1973 pela Fundação John Templeton, sediada nos Estados Unidos, busca homenagear “uma pessoa ainda viva que fez uma contribuição excepcional para a afirmação da dimensão espiritual da vida”.

Professor do Dartmouth College, uma das universidades mais importantes dos Estados Unidos, Gleiser escreveu best-sellers de divulgação científica sobre cosmologia. “Trabalharei mais duro que nunca para divulgar minha mensagem de unidade global e de conscientização planetária para um público mais amplo”, declarou o físico em um comunicado sobre o prêmio divulgado pelo Dartmouth.

Gleiser é o primeiro brasileiro a ganhar o Templeton, que concede o valor de 1,4 milhão de dólares – superior ao 1,1 milhão de dólares do Nobel – e já premiou líderes religiosos como Dalai Lama, Madre Teresa de Calcutá e o arcebispo sul-africano Desmond Tutu. Físicos como o britânico Freeman Dyson e o americano Charles Townes também foram agraciados em anos anteriores. Em comum entre eles, um discurso científico que não hostiliza a espiritualidade.

Um dos mais notórios críticos do prêmio é o biólogo – e ateu – britânico Richard Dawkins. Em seu livro Deus, Um Delírio, ele afirmou que o Templeton geralmente é dado “a um cientista que está preparado para dizer algo legal sobre religião”.

Em 2018, o ganhador foi o Rei Abdullah 2°, da Jordânia, por seu trabalho para unir o islamismo e outras religiões ao formular a Mensagem de Amã, exaltando as bases pacíficas da fé muçulmana.

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Assim como outros premiados, Gleiser também não acredita que o avança da ciência invalide as religiões. “A primeira coisa que você lê na Bíblia é uma história da criação. Judeus, cristãos, muçulmanos: independentemente da religião, todos querem saber como o mundo surgiu. A ciência pode dar respostas a certas questões, até um certo ponto. O que são o tempo, a matéria, a energia? As respostas científicas são válidas apenas em um âmbito teórico. Devemos ter a humildade para aceitar que estamos cercados de mistério”, afirma.

“O ateísmo é inconsistente com o método científico”, disse o cientista durante uma sessão de entrevistas em Dartmouth, nesta terça. “Mantenho a mente aberta porque entendo que o conhecimento humano é limitado.”

Biografia

Gleiser nasceu em uma família da comunidade judaica do Rio de Janeiro e estudou no Brasil e no Reino Unido, especializando-se em Cosmologia. Ele mora nos Estados Unidos desde 1986 e entrou no departamento de física e astronomia de Dartmouth em 1991. Gleiser se declara um agnóstico, simpático a uma visão que contesta a existência de Deus, apesar de não negá-la.

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O prêmio Templeton é financiado pela fundação do falecido John Templeton, um americano presbiteriano que fez fortuna em Wall Street. Gleiser já escreveu sobre mudança climática, Albert Einstein, furacões, buracos negros e a consciência humana. Segundo ele, o objetivo de sua obra é rastrear os vínculos entre a ciência e as humanidades, incluindo a filosofia.

Gleiser também comentou as ideias de vertentes religiosas contrárias a qualquer teoria científica. “Eles consideram a ciência como o inimigo porque têm um modo muito antiquado de pensar sobre ciência e religião, no qual todos os cientistas tentam matar Deus”, afirmou. “A ciência não mata Deus.”

(Com Reuters e AFP)

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