Filhote de mamute com 130 mil anos é dissecado na Sibéria
Achado em 2024 no permafrost russo, Yana está tão bem preservada que ainda tem pele, pelos, órgãos e até restos de comida no estômago

A imagem poderia ser de uma sala cirúrgica, mas os cientistas russos vestidos com macacões estéreis e máscaras não estavam analisando um corpo humano — e sim o de um filhote de mamute que morreu há mais de 130 mil anos. Encontrada no verão passado na região de Yakútia, no extremo leste da Rússia, a carcaça da mamute apelidada de Yana foi dissecada no fim de março de 2025 por uma equipe de paleontólogos, biólogos e genetistas, que a trataram como um verdadeiro tesouro da Era do Gelo.
Yana se juntou a um grupo muito seleto: até então, apenas seis carcaças inteiras de mamutes haviam sido encontradas no mundo — cinco na Rússia e uma no Canadá. A diferença é que nenhuma chegou tão intacta quanto ela.
Como o mamute foi preservado por tanto tempo?
O segredo está no solo permanentemente congelado da Sibéria, conhecido como permafrost. Foi ele que impediu a decomposição do corpo por milhares de anos, preservando até os tecidos moles, o estômago e parte do intestino de Yana. Com 1,2 metro de altura e 180 quilos, a fêmea tem a pele ainda com tom acinzentado, pelos avermelhados e olhos reconhecíveis. É considerada o mamute mais bem preservado já encontrado até hoje.
Embora inicialmente se pensasse que ela tivesse morrido há 50 mil anos, análises do gelo ao redor da carcaça indicaram que Yana viveu há mais de 130 mil anos, bem antes dos primeiros humanos ocuparem a região. Segundo os cientistas, a mamute tinha pouco mais de um ano de vida, já que suas presas de leite — típicas da espécie nessa idade — estavam visíveis.

Por que a necropsia desse animal é tão importante?
A dissecção feita no Museu do Mamute da Universidade Federal do Nordeste, em Yakutsk, permite entender não só como era o corpo desses animais extintos, mas também o ecossistema em que viviam. Os pesquisadores analisaram o conteúdo do sistema digestivo para identificar plantas, esporos e bactérias que Yana consumiu — e com isso reconstruir detalhes sobre o ambiente da época.
Um dos objetivos da equipe é buscar microrganismos antigos que possam estar preservados em seu corpo. Isso pode ajudar a entender a evolução das bactérias e também levantar hipóteses sobre os riscos do degelo do permafrost liberar patógenos desconhecidos, com impactos potenciais para humanos e outros animais.
O que os cientistas já descobriram até agora?
A equipe constatou que o estômago e parte do intestino grosso estavam bem preservados, com fragmentos de material vegetal ainda presentes. Amostras da pele, músculos e órgãos foram armazenadas para análise genética e microbiológica. Também estão tentando coletar amostras da microbiota vaginal do animal, o que pode revelar mais sobre os microrganismos que habitavam o corpo da mamute em vida.
O cheiro exalado durante a necropsia foi descrito como uma mistura de terra fermentada com carne macerada — resultado da longa permanência da carcaça no subsolo gelado. A parte traseira do corpo, que ficou presa em uma encosta, será analisada posteriormente.