Extinção em massa pode ser mais difícil de reverter do que se pensava
Estudo evidencia que existe um lapso de resposta entre ações de proteção e a conservação efetiva das espécies
Os efeitos da ação humana sobre o planeta podem ser ainda piores do que se previu inicialmente. Metas ambiciosas são lançadas anualmente a fim de preservar espécies do impacto da degradação. No entanto, uma pesquisa feita recentemente por cientistas britânicos considera que esses projetos podem estar fora de alcance em um intervalo de tempo bem mais curto do que se supunha. Isso porque existe um grande lapso temporal entre uma mudança ambiental e seu impacto em espécies ameaçadas.
Dados revelam que, para mamíferos e aves, o intervalo entre ações de proteção e a conservação efetiva de espécies em extinção pode ser de até 45 anos, a depender das espécies e dos fatores de mudança.
Em outras palavras, de acordo com os resultados, o histórico “Pacto de paz com a natureza”, firmado há apenas quatro meses, na Conferência da Biodiversidade das Nações Unidas (a COP15), já pode ser considerado desatualizado, pois a defasagem entre as ações e os efeitos esperados não foi levada em consideração nas projeções de perda. O tempo para reverter o cenário que estamos vivenciando pode ser, portanto, ainda mais curto e requerer metas ainda mais ambiciosas.
No cenário apresentado pelos cientistas, é possível que nós não vejamos os resultados das mudanças implementadas agora por, no mínimo, dez anos. Nesse período testemunharemos os efeitos acumulados pelas décadas de inação e exploração descontrolada da natureza. Esse atraso na resposta pode ser ainda mais longo para espécies maiores. Isso significa que algumas populações de animais ainda responderão às mudanças ambientais do passado até 2050.
Talvez, a conclusão mais radical tenha sido a percepção de que todos os esforços que visam a preservação da biodiversidade planetária podem, ao fim, falhar e resultar no declínio de espécies até 2030. As taxas globais de extinção podem ultrapassar em dezenas ou milhares de vezes os índices que atingiríamos caso não houvesse interferência humana, que já modificou aproximadamente 70% da Terra, ameaçando espécies e habitats. As áreas protegidas são um trunfo nos esforços de conservação, especialmente para as aves, e a COP15 prometeu proteger 30% do planeta para proteção.
Apesar da pesquisa não trazer boas notícias, os cientistas evidenciam que nem tudo está perdido. O manejo ativo de áreas protegidas, por exemplo, podem diminuir as ameaças para a vida selvagem. O gerenciamento, a restauração e a proteção de habitats, podem sim, ser um instrumento de controle de danos. É preciso, porém, que ações nesse sentido sejam rápidas e significativas, se ainda quisermos salvar o planeta e a nós mesmos.