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Expedição na Amazônia avalia impactos climáticos em répteis e anfíbios

Projeto avalia como o aumento da temperatura afeta espécies da ilha fluvial de Maracá, em Roraima

Por André Julião, para Agência Fapesp*
21 nov 2024, 17h28

Um time de pesquisadores passou 28 dias na terceira maior ilha fluvial do Brasil, a Estação Ecológica (Esec) de Maracá, em Roraima. Na unidade de conservação federal, distante cerca de 130 quilômetros de Boa Vista, os membros da expedição coletaram cerca de 400 exemplares de répteis e anfíbios, além de dados morfológicos e ecológicos para avaliar as respostas fisiológicas dos animais ao aumento da temperatura.

“Nosso projeto lida com o impacto das mudanças climáticas em anfíbios e répteis, visando melhorar modelos preditivos de risco de extinção e o potencial das espécies se adaptarem a mudanças no ambiente”, explica Fernanda Werneck, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) que coordena os estudos.

A ilha abriga ambientes característicos da região, como os lavrados, formações abertas dentro da floresta amazônica, além das fisionomias florestais de terra firme. Apesar de ser uma unidade de conservação integral, onde só é permitida a visitação para estudos científicos, o entorno da Esec Maracá sofre com a caça e a pesca ilegais, além do garimpo. O local abriga uma base do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra e fiscaliza a área e que apoiou todas as etapas da expedição científica.

Em maio de 2021, criminosos invadiram a base, mantiveram brigadistas reféns e levaram equipamentos que haviam sido apreendidos semanas antes de garimpeiros que atuavam na área. Essa foi a primeira visita de pesquisadores à Esec desde a invasão e contou com escolta da Força Nacional de Segurança Pública. A Estação Ecológica é uma das últimas paradas antes de adentrar a Terra Indígena Yanomami, um histórico alvo do garimpo ilegal na Amazônia. 

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Foto aérea da base científica e de apoio da Estação Ecológica de Maracá. Entorno inclui ambientes
florestais e áreas abertas naturais — (Romério Briglia/ICMBio/NGI Roraima/Reprodução)

“Apesar do contexto prévio de tensão na região, em nenhum momento nos sentimos ameaçados e os trabalhos ocorreram dentro do programado”, conta Felipe Augusto Zanusso Souza, pesquisador do Inpa que coordenou o planejamento, a logística e a execução da expedição.

Junto com outros seis membros da equipe, Souza passou os 28 dias em campo. A maior parte do grupo, cerca de 50 entre pesquisadores e pessoal de apoio, se revezou em dois turnos de duas semanas.

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Rotina

Depois de instalar armadilhas em 20 pontos na ilha, a equipe visitava diariamente os locais para coletar os animais capturados. Eram feitas ainda buscas ativas diurnas e noturnas, procurando os répteis e anfíbios no chão e na vegetação, como no caso de espécies arborícolas. Os indivíduos eram então levados até a base, onde passavam por uma série de testes no laboratório de campo montado durante a expedição.

Entre os diversos experimentos realizados, os pesquisadores testaram as temperaturas preferenciais, o desempenho locomotor e a tolerância térmica dos répteis e anfíbios daquela localidade.

Em um deles, os animais eram colocados em uma caixa com oito subdivisões similares a pistas. A estrutura era submetida a um gradiente de temperaturas frias a quentes, entre aproximadamente 20°C e 40°C. Sua resposta corporal era então registrada a cada minuto por uma hora. A média encontrada é o que se chama de temperatura preferencial em laboratório, que dá um parâmetro do que seria ideal para cada espécie.

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Em outro experimento, depois de descansarem do anterior, os animais eram submetidos a temperaturas que variavam de 5°C abaixo da temperatura ambiente até 5°C acima e, depois, estimulados a correr em uma pista, sendo cada corrida gravada para posterior determinação da velocidade.

Por fim, os indivíduos eram submetidos a decréscimos e acréscimos de temperatura e colocados de barriga para cima, sendo a tolerância termal determinada a partir da temperatura em que não tentavam mais se virar para corrigir a posição corporal.

Novas expedições devem repetir os procedimentos em outras regiões amazônicas. Nos laboratórios, serão analisados dados genéticos e da expressão de proteínas ligadas ao choque térmico, entre outros fatores. As informações vão subsidiar trabalhos a serem publicados nos próximos anos.

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Os animais coletados serão depositados na Coleção de Anfíbios e Répteis do Inpa (Inpa-H), onde estarão acessíveis a outros pesquisadores para realização de novos estudos. O projeto inclui ainda o monitoramento dos quelônios amazônicos nas bacias dos rios Araguaia-Tocantins e rio Negro.

Mitigação

De acordo com o relatório de 2023 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o aumento da temperatura média no planeta até 2050 pode ser de 3,5°C a 5,7°C, a depender das emissões de gases de efeito estufa das próximas duas décadas.

“É essencial entender agora o que pode acontecer com essas espécies num cenário de aquecimento global, a fim de que se possa tomar medidas de mitigação a tempo e subsidiar estratégias de conservação da biodiversidade com base em dados biológicos robustos”, conclui Werneck.

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