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Expedição científica percorre Rio Amazonas dos Andes até o Atlântico

Projeto tem o objetivo de ampliar o conhecimento científico e contribuir para a preservação do maior rio brasileiro

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 set 2023, 18h42 - Publicado em 30 ago 2023, 17h08

Uma expedição inédita está percorrendo o Rio Amazonas em toda sua extensão, mapeando a vida selvagem em seu entorno e ampliando o que conhecemos sobre o maior rio brasileiro e segundo maior rio do mundo. Com 6.400 km, o Rio Amazonas nasce no frio intenso dos Andes e corta a floresta amazônica até desaguar no Oceano Atlântico. Essa longa hidrovia, que forma uma enorme rede aquática do tamanho da Austrália, é berço de uma grande biodiversidade. Apesar de seu papel central para a manutenção da vida na principal floresta do mundo, o rio permanece pouco conhecido. 

Há um ano, porém, uma equipe multidisciplinar formada por ecologistas, climatologistas, biólogos, cartógrafos, geólogos e fotógrafos busca ampliar o conhecimento científico sobre as hidrovias amazônicas. Os pesquisadores buscam se articular com as comunidades locais para compreender os diferentes aspectos que se relacionam com o fluxo das águas. 

Ao trazer as hidrovias para o primeiro plano, a expedição mostra como elas se conectam à terra desde seus picos mais altos até suas florestas costeiras, sustentando a vida vegetal, animal e humana durante o percurso. A previsão é que a expedição, que acontece com o financiamento da Rolex em parceria com a National Geographic, se estenda por mais um ano. “Originalmente a ideia parecia quase impossível. Esta é uma área do tamanho da Austrália, um gigantesco ecossistema de difícil acesso”, diz Thomas Peschak, biólogo e fotógrafo da expedição. “É, literalmente, exploração, em seu sentido mais puro”.

Expedição Perpetual Planet à Amazônia, uma série de estudos científicos, com duração de dois anos, sobre a bacia do rio Amazonas -
Expedição Perpetual Planet à Amazônia, uma série de estudos científicos, com duração de dois anos, sobre a bacia do rio Amazonas – (Rolex/National Geographic/Reprodução)
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Se o trabalho tem sido difícil, os resultados, por sua vez, têm valido o esforço. Já nas primeiras semanas de exploração do delta amazônico, o oceanógrafo Angelo Bernardino mapeou os primeiros manguezais de água doce conhecidos no mundo. ”Descobrimos árvores de mangue coexistindo com árvores de água doce geralmente encontradas rio acima”, diz. Como a maioria dos manguezais cresce parcialmente submersa em águas salgadas, a descoberta de Bernardino é surpreendente, pois tem uma mistura única de espécies crescendo em pouca ou nenhuma salinidade. Esse achado aumentou em 20% a área conhecida de manguezais na região. 

Em outra ponta, o ecologista Thiago Silva analisa as inundações que submergem a floresta que nasce ao redor das margens dos rios. O pesquisador tem usado drones, escaneamento a laser e medições de árvores para criar os primeiros modelos 3D das florestas inundadas da bacia amazônica. A expectativa é que o mapeamento ajude a prever as maneiras que a floresta pode responder a situações de estresse hídrico

A vida aquática também tem sido foco de interesse. Em aproximadamente 1.300 km de rio, os pesquisadores já mapearam cerca de 1.400 botos cor-de-rosa. A espécie folclórica tem sido ameaçada pelos golfinhos da região, que competem pelos mesmos recursos. Além disso, a equipe rastreia outros animais ameaçados, como tartarugas gigantes, peixes-boi, jacarés negros, ariranhas e o pirarucu, maior peixe de água doce do mundo. Na terra, os exploradores se dedicam ao rastreamento do urso dos andes, espécie ameaçada na face andina da floresta. 

Também no polo andino da Amazônia, os cientistas climáticos da expedição instalaram uma estação meteorológica de 6.349 metros, a mais alta dos Andes tropicais, que tem produzido dados em tempo real que serão úteis no mapeamento dos efeitos das mudanças climáticas no Rio Amazonas. “O objetivo dos sonhos [com a expedição] é apresentar a dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo um ecossistema que eles nunca perceberam que existia”, diz Peschack. “Quero que as pessoas vejam que a Amazônia é aquática, e que a conservação aquática está décadas atrás da conservação terrestre”.  

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