Estudo da USP usa planta para matar células infectadas com HIV
Uma trepadeira nativa do Nordeste contém uma proteína que, quando ligada a um anticorpo, é capaz de atacar apenas as células doentes, preservando as sadias
Sementes de uma planta trepadeira nativa do Brasil podem ser usadas para matar células infectadas com HIV, vírus causador da aids. Essa é a descoberta de um novo estudo conduzido em laboratório por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade de Louisiana, nos Estados Unidos. A planta (Abrus pulchellus) é tóxica se ingerida por animais e possui uma proteína que, quando ligada a um anticorpo que identifica células doentes, destrói as partes contaminadas pelo vírus, mesmo quando ele está “silenciado” por medicamentos.
Segundo o professor orientador do estudo, Francisco Eduardo Guimarães, docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, a puchelina (proteína extraída da planta) foi capaz de matar 90% das células com HIV, em laboratório, preservando as sadias. “Estamos desenvolvendo o que chamamos de uma imunoterapia. Ainda estamos no começo [das pesquisas], mas estamos tendo sucesso”, afirma o pesquisador em entrevista à Rádio USP.
Guimarães explica que a equipe já sabia das propriedades tóxicas da trepadeira, encontrada no Nordeste. O que eles perceberam é que, se pequenas doses da proteína da planta fossem associadas a um anticorpo que atua apenas nas células doentes, formando um complexo chamado imunotoxina, eles conseguiriam destruir as células infectadas mesmo se o paciente estivesse tomando medicamentos. Os antirretrovirais, como são chamados os remédios disponíveis atualmente para tratamento do HIV, não eliminam completamente o vírus do corpo, apenas impedem que ele se multiplique e infecte células novas.
HIV
De acordo com o Ministério da Saúde, 827.000 pessoas vivem com HIV no Brasil. No mundo, esse número chega a 36,7 milhões, segundo dados da Unaids, programa da ONU para combater o vírus. A instituição estimou que, em 2016, 1,8 milhão de novos casos foram identificados no mundo, sendo 160.000 deles em crianças menores de 15 anos.
A aids, sigla em inglês para síndrome da imunodeficiência adquirida, é uma doença que ataca o sistema imunológico do paciente e que surge em estados avançados da infecção pelo HIV. Conforme o vírus vai destruindo os glóbulos brancos, diminui a capacidade do corpo de se defender contra outras doenças que, normalmente, não trariam grandes riscos para a saúde. Em casos mais graves, essas infecções oportunistas, como são chamadas as enfermidades que se aproveitam da fraqueza do sistema imunológico, podem levar o paciente a óbito.
As principais formas de contágio pelo vírus HIV são por troca de sêmen, secreção vaginal ou sangue. Por isso, a infecção é considerada uma doença sexualmente transmissível (DST) e pode ocorrer em casos de sexo desprotegido (sem camisinha) e em situações em que há troca desses fluidos. Também é possível adquirir o vírus ao compartilhar seringas e instrumentos perfurantes não esterilizados com uma pessoa infectada ou durante a amamentação, passando o HIV de mãe para filho por meio do leite.