Como cientistas querem extrair água de rochas da Lua
Pesquisadores do Reino Unido vão testar tecnologia que pode facilitar a presença humana permanente no satélite terrestre
Existe um ditado que diz ser impossível tirar leite de pedra. De fato, isso é algo pouco provável, mas a tecnologia anda avançando tão rapidamente que alguns cientistas acreditam que em breve será possível tirar água da Lua. Uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Open University, do Reino Unido, está desenvolvendo maneiras de extrair água da rocha lunar com o objetivo de facilitar a presença contínua do homem no satélite.
O Artemis, atual programa de exploração espacial desenvolvido pela Nasa, tem como um dos objetivos levar o ser humano novamente à superfície lunar. O projeto ganhou esse nome em referência à deusa grega irmã gêmea de Apolo, que batizou a missão que levou o primeiro homem à Lua há mais de 50 anos. A primeira etapa desse novo programa, concluída esse ano, foi um sucesso e aumentou as expectativas para as próximas fases, além de reavivar pesquisas que têm como foco o satélite natural da Terra.
O projeto liderado pelo Professor Mahesh Anand segue nessa linha e pretende tornar a vida na Lua mais fácil. Sua equipe planeja a criação de estações de pesquisa autossustentáveis que permitam a exploração do sistema solar e contribuam, eventualmente, para a primeira missão tripulada à Marte. Para tal, o projeto busca compreender mais profundamente a relação entre a Lua e a água.
Dados de satélite indicam a presença de gelo nos polos lunares, o que levou pesquisadores a buscar maneiras de extrair e analisar essas fontes. Anand tem estudado há mais de uma década regolitos lunares, amostras de rocha e poeira, coletadas durante as missões Apollo nas décadas de 1960 e 1970. Embora a superfície árida da Lua tenha sido pouco favorável à presença de água, Anand concluiu que os regolitos têm um alto teor de oxigênio. Isso significa que a produção de água pode ser possível a partir da adição de hidrogênio e do aquecimento do solo, o que causaria uma reação química.
Pesquisas como a de Anand têm importância estratégica para as missões espaciais, tendo em vista os altos custos para levar qualquer substância para o espaço. Para ter ideia, cada quilo levado à órbita custa aproximadamente um milhão de dólares. A extração local poderia tornar as missões mais econômicas, além de favorecer bases permanentes fora da Terra. A próxima missão Artemis, prevista para 2024, levará um espectrômetro de massa exosférico para perfurar, recolher e analisar amostras de rochas lunares. “A Lua tem muitos segredos e muitos deles podem contar um pouco da história da nossa Terra”, afirmou Anand ao jornal The Guardian.
Além de buscar por maneiras sustentáveis de extração de água, a equipe de Anand incluiu o uso de impressoras 3D para a construção de equipamentos para a criação de um habitat humano, o cultivo de plantas em cinzas vulcânicas (que tem a composição semelhante a poeira lunar) e a criação de um sistema de microondas para o derretimento de poeira lunar entre seus feitos.