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Combate biológico: a reação do governo na ciência após desastres da pandemia

Deu-se o pontapé inicial em um projeto de laboratório que pode pôr o país na dianteira de estudos fundamentais

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2024, 16h41 - Publicado em 1 dez 2024, 08h00

Durante os dias mais severos da pandemia de covid-19, o mundo viveu a incerteza banhada de medo, mas o Brasil, em especial, teve de lidar com uma verdade inconveniente. Por estas bandas, apesar do grande número de profissionais qualificados, não havia estrutura nem recursos suficientes para usar o poderio científico local de maneira robusta contra o vírus. Houve muito esforço, mas acabamos à mercê da ciência e das vacinas desenvolvidas no exterior. A situação de escassez despertou a atenção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

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Por meses, os técnicos da pasta se debruçaram sobre o financiamento de uma variedade de centros de pesquisa biológica em todo o país em busca de atalhos e financiamento para bancar a construção de um laboratório de alta contenção biológica, identificado pela sigla NB-4 — o nível de segurança máxima para o estudo de patógenos perigosíssimos, ainda sem tratamento ou imunizante adequado. Surgiu, a partir desse louvável movimento, o Orion, projeto do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que antes do final desta década deve abrigar em Campinas (SP) um complexo avançado de pesquisa de microrganismos, bactérias e fungos nocivos. E ainda terá um ineditismo: será o primeiro nesse grau de proteção em todo o mundo acoplado a um moderno acelerador de partículas, o Sirius, menina dos olhos da tecnologia brasileira.

TREINAMENTO - Em busca de autossuficiência: testes seguros já em operação
TREINAMENTO - Em busca de autossuficiência: testes seguros já em operação (CNPEM/Divulgação)

É um feito extraordinário. Em toda a América Latina, não há empreendimentos como esse, destinados ao estudo de vírus como o sabiá, causador da febre hemorrágica brasileira, ou o ebola (veja no quadro). O passo é ambicioso. “Temos a missão de construir, desenvolver e operar laboratórios para a comunidade nacional e internacional”, disse a VEJA o diretor-geral do CNPEM, Antonio José Roque da Silva. “Ouso dizer que esse olhar inovador faz parte de nosso DNA.” Em outras palavras: diferentemente do que ocorre em universidades ou instituições farmacêuticas, essa instalação não será voltada apenas para uma pequena equipe de pesquisadores locais, mas estará aberta a qualquer profissional ou empresa qualificados que tenha uma ideia compatível e competitiva. O acoplamento ao Sirius, sublinhe-se, chamou a atenção até dos países mais desenvolvidos: o acelerador, um dos únicos quatro desse tipo em todo o mundo, produz a chamada luz síncrotron, que funciona como um poderosíssimo microscópio, capaz de registrar imagens tridimensionais de microrganismos em ação. É recurso que deve multiplicar, e muito, a capacidade de compreender infecções e desenvolver tratamentos.

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É, ainda, quase um manifesto de autossuficiência científica, e não há aqui chauvinismo. “Na América do Sul já foram identificados vírus que precisam da manipulação em um laboratório NB-4, mas que ficam armazenados em outros países porque não temos estrutura para trabalhar com segurança”, diz Helena Lage Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia. A estrutura permitirá o estudo de riscos potenciais, o desenvolvimento de vacinas e sobretudo o treinamento de pessoal habilitado para trabalhar de maneira responsável em experimentos ou emergências globais. E então o Brasil poderia deixar as margens e chegar ao centro. “Será fundamental na prevenção e preparação para futuras epidemias”, diz Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e docente da Escola de Saúde Unisinos.

arte combate biológico

Todo esse esforço, no entanto, esbarra em um perigo familiar para os brasileiros. Hoje, o governo apoia o desenvolvimento do Orion por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Para que chegue a operar em máxima capacidade, contudo, é preciso que haja continuidade. A partir de 2027, com um novo governo em Brasília, é fundamental que a ciência seja tratada como programa nacional de longo prazo, de Estado, e não como nuvem passageira, ao prazer dos poderosos.

Publicado em VEJA de 29 de novembro de 2024, edição nº 2921

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