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Com a Artemis I, a Lua volta a ser alvo de uma nova corrida espacial

Além dos Estados Unidos, China, Índia e Rússia querem reconquistá-la

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 set 2022, 10h04 - Publicado em 2 set 2022, 06h00

Supõe-se que ela teria surgido há 4,5 bilhões de anos, logo depois da formação do sistema solar. Nasceu, acredita-se, da colisão de um asteroide gigante com a Terra. Depois, engajou-­se com o planeta em uma bela dança gravitacional que dura até hoje e soa infinita. Influencia marés, a vida animal e a flora de maneiras que a ciência ainda não conseguiu entender por completo — e do enigma brota beleza. Embora nos mostre sempre a mesma face, consegue encantar, fascinar e, reza a lenda, até transformar os seres humanos em outra coisa — quem crê em lobisomens que o diga. Inspira cientistas e artistas de todas as cepas, está nas poesias e nas canções. A Lua, a lua dos apaixonados, voltou a ser um destino cobiçado. E lá vamos nós pisá-la novamente.

ARTEMIS I - O foguete SLS na plataforma de lançamento, na Flórida: orçamento estourado e adiamentos -
ARTEMIS I – O foguete SLS na plataforma de lançamento, na Flórida: orçamento estourado e adiamentos – (Bill Ingalls/NASA/AFP)

Os Estados Unidos, que há mais de cinquenta anos foram o primeiro país a fincar bandeira em solo lunar, pavimentam o caminho de retorno com a missão Artemis I. Batizado com o pomposo nome de Sistema de Lançamento Espacial (SLS, na sigla em inglês), o foguete de 100 metros de altura faria sua estreia na semana passada, decolando do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, em um voo não tripulado. A detecção de um problema em um dos motores, no entanto, levou ao adiamento da operação. O plano, ainda de pé, é conduzir a cápsula Orion para um passeio ao redor da Lua, levar os equipamentos ao limite e depois trazer tudo de volta no prazo de até um mês e meio (veja no quadro).

De acordo com a Nasa, a Artemis I “fornecerá as bases para a exploração humana do espaço profundo”. Por trás da linguagem empolada, há um projeto ambicioso. No planejamento da agência espacial americana estão previstas missões futuras na superfície lunar, com o objetivo de criar uma espécie de plataforma para outros destinos mais distantes, incluindo Marte. Prevista para 2024, a Artemis II levará a tripulação a testar os sistemas críticos da Orion na órbita da Lua. E, então, em 2025, logo aí, a Artemis III pretende alunissar a espaçonave tripulada com astronautas. Ficou estabelecido também desde o início que pelo menos uma mulher e uma pessoa de cor devem fazer parte dessas equipes.

APOLLO 11 - Saturn V decola do Centro Kennedy, em 1969: missão histórica -
APOLLO 11 - Saturn V decola do Centro Kennedy, em 1969: missão histórica – (AP/Image Plus)

O foguete SLS, com capacidade de impulso 15% maior que os modelos Saturn V usados nas antigas missões Apollo, nos anos 1960 e 1970, passará por aperfeiçoamentos, com capacidade de carga aumentada de 26 toneladas para 45 toneladas. Isso será necessário para que futuras missões de exploração tripuladas tenham condições de sobreviver no espaço por longas temporadas. A Nasa e a ESA, agência espacial europeia, estão construindo uma estação orbital, a Gateway, para funcionar como um “portal para operações no espaço profundo”. Outra ideia é a construção de uma base na superfície lunar, que serviria como plataforma de lançamento para outros pontos do sistema solar.

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DESFILE - Astronautas em Nova York, depois da primeira viagem: celebridades -
DESFILE - Astronautas em Nova York, depois da primeira viagem: celebridades – (Bettmann/Getty Images)

Consequência da Guerra Fria entre EUA e União Soviética, a corrida espacial entre os dois países tinha como troféu a “conquista” da Lua. Por conquista entenda-se levar astronautas ou cosmonautas até o solo lunar. De 1960 a 1973, o Projeto Apollo, da Nasa, proporcionou aos americanos o doce sabor da vitória, ao custo de mais de 250 bilhões de dólares em valores atuais — um investimento estrondoso para qualquer época. Em julho de 1969, Neil Armstrong, integrante da missão Apollo 11, foi o primeiro astronauta a pisar no satélite natural. É dele a mãe de todas as frases: “Um pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a humanidade”. Três anos depois, em 1972, Gene Cernan, tripulante da missão Apollo 17, foi o último a deixar suas pegadas impressas no solo de cor flicts, como imaginou o cartunista Ziraldo.

Na realidade do século XXI, em que o telescópio James Webb consegue espiar o que aconteceu em galáxias distantes a mais de 13 bilhões de anos-luz, a disputa pelo espaço em geral e pela Lua em particular aumentou consideravelmente. Há vários outros países engajados nesse mesmo movimento. Em janeiro de 2019, a China pousou a espaçonave Chang’e-4 na Cratera Von Kármán, no Polo Sul, e liberou o robô Yutu-2, que tem feito vários tipos de medições e continua ativo. A Rússia, herdeira do programa espacial soviético, havia anunciado a retomada das antigas missões Luna, uma das quais estava prevista justamente para agosto. A Luna-25 testaria a tecnologia de pouso suave na superfície lunar, mas foi adiada em razão da invasão da Ucrânia e da suspensão da parceria com a agência europeia.

A Roscosmos, a agência espacial russa, busca agora firmar acordo com a China. A Índia, que havia programado para agosto a missão Chandrayaan-3, afeita a levar um robô e um módulo de pouso, foi obrigada a adiá-la mais uma vez. Japão e Coreia do Sul também anunciaram seus próprios planos. A Jaxa, japonesa, planeja mandar ainda neste ano um módulo para tentar um pouso em solo lunar com um nível de precisão jamais alcançado. Os Emirados Árabes Unidos contrataram uma empresa nipônica, a ispace, para transportar o primeiro de quatro veículos robóticos de exploração, batizado como Rashid — será a primeira viagem comercial ao satélite. E a Coreia do Sul lançará o orbitador lunar coreano Pathfinder.

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RIVAIS - Bandeira chinesa no lugar da americana: o solo lunar virou obsessão -
RIVAIS – Bandeira chinesa no lugar da americana: o solo lunar virou obsessão – (Dmitrii Melnikov/Fotoarena/.)

Os programas espaciais nacionais não estão sós na redescoberta. Empresas privadas como a SpaceX, de Elon Musk, e Blue Origin, de Jeff Bezos, têm promovido com estradalhaço suas viagens suborbitais com foguetes e espaçonaves reutilizáveis, muitas delas sob a classificação de turismo espacial. Além delas, a japonesa ispace tem se destacado em parcerias com países do Oriente Médio e do Leste Asiático. Mais do que uma disputa, desenha-se neste século um cenário de colaborações entre os setores públicos e privados, já que custos como o da missão Artemis, que depois de dez anos está próximo de atingir a casa dos 100 bilhões de dólares, seriam impossíveis de se sustentar no mundo corporativo.

A Lua sempre suscitou enorme fascínio e, não à toa, é um ícone cultuado. Levar homens e mulheres para explorá-la, seja como plataforma de lançamento para o espaço profundo, seja como fonte de recursos de maneira sustentável, é um benefício para a raça humana. E um objetivo a ser perseguido agora por vários países. Como, enfim, tirar os olhos da Lua?

Publicado em VEJA de 7 de setembro de 2022, edição nº 2805

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