Cientistas produzem concreto mais sustentável com resíduo amazônico
O murumuru já era utilizado para fins cosméticos, mas, agora, a casca antes rejeitada pode ajudar a reduzir os impactos da indústria civil

Na região amazônica existe uma árvore, com um fruto de mesmo nome, chamada de murumuru. Abundante, ela é utilizada na alimentação dos povos locais, mas o extrativismo é voltado para a obtenção do seu óleo, valioso na indústria cosmética. A casca que sobra da extração não tinha utilidade e por isso era queimada e descartada. Mas, agora, um grupo de pesquisadores descobriu uma possível aplicação desse resíduo na indústria civil – e o melhor, com impacto positivo para o meio ambiente.
De acordo com o trabalho, publicado nesta sexta-feira, 15, na Revista IBRACON de Estruturas e Materiais, as cinzas da casca do murumuru podem ser uma alternativa ao cimento na produção do concreto. Essa substituição gera um produto final mais sustentável. Isso acontece porque além de diminuir a quantidade de resíduos, ele reduz as emissões de gases do efeito estufa promovidas pelo ingrediente original, um dos principais responsáveis pela pegada de carbono da indústria civil.
No estudo, 6% da massa de cimento foi substituída pelas cinzas do murumuru e o resultado surpreendeu. Ao ser misturado com os outros produtos, ele é capaz de preencher os poros do concreto e diminuir a interação com agentes reativos, aumentando a resistência e a durabilidade do material.

E os benefícios não param por aí. “Essa alternativa pode ajudar na economia, reduzindo os gastos de extração das matérias primas principais do cimento, além de fomentar as cooperativas agroindustriais e fortalecer as comunidades locais amazônicas”, afirmou a VEJA o pesquisador da Universidade Federal do Pará e autor principal do artigo, Milleno Souza.
Anualmente, de acordo com o censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são extraídas 253 toneladas deste fruto nos estados da região Norte. Quase metade dessa massa, no entanto, corresponde à casca, demonstrando o potencial de utilização, ao menos em escala local – um incremento importante para a ascendente bioeconomia.
No futuro, o pesquisador continuará investigando as cinzas do murumuru para melhorar o desempenho do material e investigará outros produtos com o mesmo potencial. “Há outros resíduos agroindustriais que podem ser explorados, como o bagaço da cana-de-açúcar, o caroço de açaí e a casca do arroz”, afirma Souza. “As matérias primas originais do cimento podem ficar escassas daqui um tempo, então é importante, desde já, economizarmos esses preciosos recursos naturais.”