Cientistas encontram possível explicação evolutiva para a bissexualidade
Em homens, genes relacionados a esse padrão comportamental estão associados a um número maior de filhos e a maior disposição a tomar riscos
A sexualidade humana ainda é um campo com mais dúvidas do que respostas para a ciência. O comportamento homossexual, por exemplo, é uma incógnita, afinal, se não leva a reprodução, como os genes relacionados a ele passam para frente? Um estudo divulgado agora se debruçou sobre alguns desses questionamentos e, embora não tenha respondido a pergunta central, encontrou uma possível vantagem evolutiva associada a bissexualidade.
De acordo com o artigo publicado nesta quarta-feira, 3, no renomado periódico científico Science Advances, em homens, genes relacionados ao comportamento bissexual são os mesmos associados a maior propensão a tomada de riscos e, mais importante, ao maior número de filhos. Os “genes da bissexualidade” persistem, então, não porque se interessar por pessoas de ambos os sexos confere uma vantagem adaptativa, mas porque eles são os mesmos que fazem com que alguém esteja mais disposto a tomar riscos.
Como o estudo foi realizado?
Para fazer essa investigação os pesquisadores utilizaram o United Kingdom’s Biobank, um banco de dados britânico que contém informações genéticos e de saúde de uma grande quantidade de indivíduos. Eles investigaram 450 mil deles e viram que existia um certo padrão genético associado ao comportamento bissexual em homens.
O que a investigação revelou foi que homens heterossexuais que carregavam o mesmo padrão genético dos bissexuais respondiam “sim” com mais frequência a pergunta “Você se descreveria como alguém que assume riscos?”. Além disso, eles viram que esses homens, na média, tinham mais filhos que os homens com outros padrões genéticos.
Os resultados sugerem que os genes que fazem com que alguém seja mais propenso a tomar riscos são os mesmos que o tornam mais propenso a bissexualidade. “A vantagem reprodutiva dos alelos associados a bissexualidade é um subproduto da vantagem reprodutiva do comportamento de risco”, explica o biólogo evolutivo e autor sênior do artigo, Jianzhi Zhang, em comunicado.
O mesmo, no entanto, não ocorreu quando eles analisaram os genes relacionados ao comportamento homossexual exclusivo. Quando investigaram homens heterossexuais que tinham os mesmo padrões genéticos daqueles que se relacionam apenas com outros do mesmo sexo, viram que eles tinham menos filhos que a média, o que mantém obscura a resposta para a pergunta inicial.
Qual a explicação encontrada pelos autores?
Estudos anteriores já haviam mostrado resultados semelhantes. Um trabalho publicado em 2021 mostrou que homens heterossexuais com padrões genéticos semelhantes ao de pessoas que sentem atração por outras do mesmo sexo, tinham mais parceiros sexuais do que a média. Isso poderia conferir uma vantagem evolutiva, mas outros pesquisadores argumentaram que a popularização dos métodos contraceptivos eliminava essa hipótese.
O que os autores sugerem agora é que a vantagem adaptativa vem, não do maior número de parceiros, mas da maior propensão a comportamentos de risco. “Embora a pergunta do biobanco britânico sobre a assunção de riscos não tenha especificado o tipo de risco, é provável que a ela inclua sexo desprotegido e promiscuidade, o que poderia resultar em mais filhos”, afirma Zhang.