Cientistas debatem nova definição de tempo e GMT pode virar história
Novo padrão deve unificar medidas diferentes de tempo usadas atualmente
Cinquenta cientistas de todo o mundo se reúnem a partir desta quinta-feira a portas fechadas, a noroeste de Londres, convocados pela prestigiosa Royal Society (veja quadro abaixo, à esquerda) para debater uma nova definição de tempo, que pode fazer o horário GMT constar apenas dos livros de história.
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ROYAL SOCIETY
Seu nome completo é The Royal Society of London for the Improvement of Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para o Progresso do Conhecimento da Natureza). Criada em 1660, é uma irmandande formada por representantes de todas as áreas científicas.
GMT
Sigla para Greenwich Mean Time, ou Horário Médio de Greenwich, baseado no primeiro meridiano de Greenwich, que passa pelo Observatório Real, perto de Londres. Definido pela rotação da Terra, é usado como o marcador oficial do tempo. A oeste, o fuso é negativo; a leste, positivo. O fuso horário brasileiro, por exemplo, é GMT -3, ou seja, três horas a menos que o horário GMT.
Em 1972, o GMT foi substituído pelo UTC (sigla em inglês para Tempo Universal Coordenado), que se baseia no tempo marcado pelos relógios atômicos. É basicamente o mesmo horário do GMT, com algumas pequenas diferenças. O horário de Brasília, por exemplo, é UTC-3.
O tema provoca comoção na imprensa britânica. Para o jornal Sunday Times é a “perda do horário GMT, símbolo durante mais de 120 anos do papel de superpotência da Grã-Bretanha vitoriana”.
O Greenwich Mean Time, baseado no primeiro meridiano de Greenwich, se tornou a referência mundial do tempo em uma conferência celebrada em 1884 em Washington.
“Compreendemos que o Reino Unido tenha este sentimento de perda”, declarou Elisa Felicitas Arias, diretora do Departamento de Tempo do Escritório Internacional de Pesos e Medidas, organismo com sede em Sevres, nas proximidades de Paris, responsável por definir o quilo e o metro.
Tempo atômico – A nova definição propõe que se abandone definitivamente o tempo “solar”, baseado na rotação da Terra e medido pelos astrônomos há mais de 200 anos a partir do meridiano de Greenwich.
Na realidade, há 40 anos o mundo não é gerenciado pelo horário GMT, que continua sendo a hora oficial da Grã-Bretanha e ainda é utilizado amplamente no mundo como referência. Uma conferência internacional adotou em 1972 o “Tempo Universal Coordenado” (UTC), calculado em 70 laboratórios do mundo por 400 relógios “atômicos” (batizados assim porque o segundo é definido pelo ritmo de oscilação de um átomo de césio).
O tempo atômico tem a vantagem de ser muito mais preciso, mas difere por frações de segundo do tempo definido pela rotação da Terra. Atualmente, para guardar a correlação com rotação terrestre, um “segundo intercalado” é acrescentado aproximadamente a cada ano. Agora os cientistas propõem suprimir este segundo, abandonando com isto a correlação com o horário GMT.
GPS – A mudança é necessária em consequência do funcionamento das redes de telecomunicações ou de navegação com a ajuda dos satélites através do GPS. “Estas redes precisam de uma sincronização do nível do nanosegundo”, explica Arias.
E como alguns sistemas aplicam o “salto” de um segundo e outros não, a interoperabilidade se vê comprometida. “Começaram a ser criadas escalas de tempo paralelas. Imaginem um mundo com duas ou três definições do quilo”, afirma Arias, alarmada.
Uma recomendação que propõe suprimir o segundo intercalado será submetida em janeiro à votação da União Internacional de Telecomunicações em Genebra. Se o texto for aprovado, o tempo atômico se afastará progressivamente do tempo solar, ao ritmo de um minuto a cada 60 ou 90 anos, e de uma hora a cada 600 anos.
Diante das dúvidas, a conferência da Royal Society, a academia de ciências britânica, pode deixar aberta a possibilidade de ajustes futuros. “A conferência pode refletir outra maneira de correlacionar o tempo de rotação da Terra”, sugere Arias.
Uma possibilidade é adicionar uma hora a cada 600 anos. “Depois de tudo, pulamos uma hora como no horário de verão”, argumenta.
(Com Agência France-Presse)