Ciclones tropicais são mais comuns no sul; entenda
Mudanças climáticas tornam o fenômeno mais intenso e menos frequente
Desde julho, quatro ciclones extratropicais atingiram a região Sul do país. O última deles, na primeira semana de setembro, foi especialmente intenso, deixando ao menos 40 mortos e mais de um bilhão de reais em prejuízo no Rio Grande do Sul. Segundo especialistas, o fenômeno é mais comum na região, mas tem sido modificado pelas mudanças climáticas.
De acordo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Manoel Alonso Gan, em nota divulgada nesta terça-feira, 12, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, embora não haja uma quantificação feita pelos centros brasileiros, é possível perceber que a ocorrência dos ciclones extratropicais tem diminuído, mas que os eventos intensos têm se tornado mais frequentes.
Esse fenômeno climático é consequência da diferença de temperatura e umidade entre o continente e o oceano. Quando o ar é mais frio e seco em terra, ele se desloca para o mar, mais quente e úmido. Esse choque contribui com a rápida transferência de umidade para a atmosfera, provocando tempestades.
Justamente por esse motivo, eles se tornam mais frequentes no período de maio a setembro, quando as temperaturas tendem a sofrer mais quedas, em especial no Sul. Neste ano, o fenômeno ainda ganha mais um contribuinte. “A temperatura da superfície do mar está ligeiramente mais alta do que a climatologia desta época do ano, o que contribui para que o oceano forneça mais energia em forma de calor e umidade para a atmosfera e, assim, os ciclones podem se tornar mais intensos”, afirma Gan.
Esse aumento tem uma explicação. “Possivelmente isso está ocorrendo pela presença de um El Niño forte”, explica o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Joel Avruch Goldenfum. Esse evento climático, que ocorre naturalmente, aumenta a temperatura dos oceanos, influenciando profundamente o clima em todo o planeta. Ele ressalta, contudo, que é possível que, por enquanto, esse seja apenas um efeito das mudanças climáticas.
Os ciclones sempre acompanham as frentes frias, mas eles, geralmente, se restringem aos oceanos, aumentando a força das ondas, sem provocar grandes tempestades. Ao ganharem intensidade e se aproximarem do continente, no entanto, elas provocam os estragos observados na região Sul, em consequência dos ventos fortes.