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Chega ao fim a era de riscos e gastos dos ônibus espaciais

Atlantis faz, nesta sexta-feira, seu último voo. Com ele, os Estados Unidos aposentam os ônibus espaciais e voltam seus esforços para a Lua e Marte

Por Tatiana Gerasimenko
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h06 - Publicado em 2 jul 2011, 00h48

O último voo da Atlantis, agendado para 8 de julho, pode até arrancar lágrimas de quem acompanhou a jornada de trinta anos dos ônibus espaciais da Nasa. Robustas, essas naves realizaram, em 135 missões, feitos que permitirão à ciência avançar em inúmeras áreas, ainda por muitos e muitos anos – como pôr em órbita o satélite Hubble e ajudar a montar a Estação Espacial Internacional. Mas o anúncio de aposentadoria do programa faz sentido. Os ônibus espaciais não conseguiram cumprir sua função original: permitir a exploração do espaço com naves reutilizáveis, de maneira segura e economicamente viável.

Economia e segurança foram os pontos fundamentais do programa espacial em que os ônibus falharam. Cada missão custava em média 500 milhões de dólares, muito mais que os russos gastam para mandar suas cápsulas Soyuz ao espaço. Dos cinco ônibus espaciais que efetivamente participaram de missões, dois terminaram em tragédias (Challenger e Columbia), matando 14 astronautas, e por outro (Discovery) temeu-se que tivesse o mesmo fim (confira linha do tempo da era dos ônibus espaciais). No mesmo período, só o ineficiente programa espacial brasileiro matou mais gente: 21 pessoas na explosão ocorrida na base de Alcântara, em agosto de 2003, nenhuma delas astronauta. Na Rússia, mesmo em crise financeira após a queda do regime comunista, apenas uma pessoa morreu, em 2002, por causa da explosão de um foguete.

“Na época em que os ônibus espaciais foram concebidos, na década de 1970, a ideia era interessante do ponto de vista conceitual: levar muitas pessoas ao espaço”, afirma o engenheiro do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) José Bezerra Pessoa Filho. “Com o déficit orçamentário, os Estados Unidos começaram a se intimidar em relação ao programa, até a administração atual ter a ideia de passar a fabricação de veículos tripulados para a iniciativa privada.”

Em 2010, o presidente americano Barack Obama anunciou que o orçamento da NASA (de cerca de 18 bilhões de dólares) seria congelado durante cinco anos. Programas como o Constellation – estabelecido no governo de George W. Bush com o a premissa de retorno à Lua até 2020 – foram cancelados. Para driblar o problema, a agência espacial americana repassou a criação das naves à iniciativa privada. Quatro empresas receberam dinheiro da Nasa: Boeing (92 milhões de dólares), Space Exploration Technologies (75 milhões de dólares), Sierra Nevada (80 milhões de dólares) e Blue Origin (22 milhões).

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Modelos mais compactos e econômicos estão sendo agora desenvolvidos com o objetivo de dar continuidade aos projetos da Estação Espacial Internacional (ISS), prioridade da agência espacial americana até 2020. Enquanto isso, os americanos precisarão pagar 50 milhões de dólares aos russos por cada corrida até a ISS com as naves soviéticas Soyuz, velhas, mas aparentemente confiáveis.

Números da frota

Custo de cada missão: US$ 500 milhões

Custo do programa: US$ 200 bilhões

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Total de missões: 135

Satélites entregues: 61

Números de cada ônibus

Comprimento: 37 metros

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Peso: 78 toneladas

Peso total na decolagem: 110 toneladas

Peso máximo no pouso: 100 toneladas

Capacidade de carga: 25 toneladas

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Altitude de órbita: de 180 a 640 quilômetros

Velocidade de órbita: 28 mil km/h

Tripulação: de cinco a sete astronautas

Nova geração – A dependência americana não deve durar muito tempo. Mesmo antes do fim dos ônibus espaciais, a iniciativa privada já tinha projetos em andamento. A SpaceDev, subsidiária da Sierra Nevada Corporation, está desenvolvendo a nave Dream Chaser. Planejada para viagens tripuladas suborbitais e orbitais, ela poderá acomodar até sete pessoas em órbita terrestre baixa. A Virgin Galactic, do bilionário inglês Ted Branson, se tornou parceira da SpaceDev com o objetivo de adaptar a Dream Chaser para o transporte de turistas até o espaço.

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Mais ambiciosa, a Space Exploration Technology aposta em um foguete potente com capacidade de carga de até 53 toneladas, que poderia ser adaptado para viagens tripuladas a Marte no futuro, como adora salientar seu proprietário, o sul-africano Elon Musk. Sua estrutura é capaz de transportar satélites e até mesmo pequenas naves até o espaço, com potência comparável a de ônibus espaciais. Os testes devem começar em 2013.

A Boeing continua seus projetos para dar luz ao Crew Space Transportation (CST-100), uma cápsula que poderia levar até sete astronautas à estação espacial. Os primeiros testes devem ser realizados em 2015, embora a empresa já fale em vender assentos, uma vez que a proposta também tem caráter comercial.

Nenhuma das promessas, contudo, parece tão consistente quanto o modelo que resgata a cápsula Orion – único ponto do projeto Constellation que não foi deixado de lado e que já custou cinco bilhões de dólares aos cofres americanos. No dia 24 de maio, a Nasa anunciou que o modelo seria usado para dar suporte às expedições na órbita terrestre baixa. “É a nova geração de naves espaciais do país, que permitirá explorar o espaço além da órbita terrestre baixa nos próximos 40 anos”, afirma Linda Singleton, da Lockheed Martin Space Systems Company, empresa responsável pelo desenvolvimento da nave. Segundo ela, o veículo é tecnicamente capaz de suportar missões até asteroides e luas de Marte.

O primeiro módulo da Orion já está pronto para uma série de testes de simulação de voo e ambientes agressivos no espaço. A capacidade de resposta a questões como vibração deve ser avaliada ainda este ano. Outra nave similar está sendo fabricada pela Lockheed e é a eleita para os primeiros voos orbitais de teste propostos para 2013. Explorações espaciais tripuladas são planejadas para 2016.

A kombi e o fusca – As diferenças entre os antigos ônibus espaciais e a cápsula Orion são grandes. Apesar do nome, os ônibus espaciais estavam mais para uma espécie de Kombi espacial, levando muitas pessoas e carga ao mesmo tempo. Foram concebidos originalmente para colocar satélites em órbita e levar um número maior de astronautas em uma mesma missão. Deram suporte à manutenção do telescópio espacial Hubble e foram peça-chave na construção e transporte de astronautas até a Estação Espacial Internacional (localizada a 350 quilômetros da Terra). A Orion, contudo, foi pensada para ir além das regiões influenciadas pela gravidade terrestre – algo que ônibus espaciais não conseguiriam fazer. Por este motivo, é supercompacta, como um Fusca: cabem seis astronautas. Apertados, sim, mas, garantem os projetistas, com segurança e baixo custo.

“Estas cápsulas desenvolvidas nos últimos anos são muito parecidas com as que foram à Lua”, explica José Bezerra Pessoa Filho. “Até o formato é parecido, e a explicação está na física: o ‘cone’ tem uma base grande para dissipar o calor na hora de reentrar na atmosfera.” Mais que o formato, a Orion resgata o lado explorador do programa espacial americano. Mesmo anunciando cortes no orçamento da Nasa, Obama colocou entre os objetivos da agência uma missão tripulada ao planeta Marte até 2030. Depois de três décadas usando o caro ônibus espacial, os Estados Unidos querem, com a Orion, refazer a ambiciosa trilha que os levaram à Lua e fincar sua bandeira em Marte.

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