É consenso que o número de espécies ameaçadas pelas mudanças climáticas é enorme. Entre essas, porém, um grupo se destaca como a classe de animais vertebrados mais sensível à deterioração global: os anfíbios. A situação, no entanto, pode ser ainda pior do que os cientistas estimavam. É isso que sugere um estudo publicado nesta quarta-feira, 4, pela revista Nature, que analisa dados acumulados mundialmente ao longo de duas décadas, e conclui que o aquecimento global é o maior desafio para os sapos, salamandras e cecílias. De acordo os pesquisadores, quase 41% de todas as espécies de anfíbios avaliadas estão atualmente criticamente ameaçadas, em perigo ou vulneráveis, comparado com 26,5% dos mamíferos, 21% dos répteis e 13% das aves.
O artigo foi produzido com base na segunda avaliação global de anfíbios, que colocou sob risco de extinção mais de 8.000 espécies em todo o mundo. O esforço multinacional de registro reuniu mais de mil especialistas. De acordo com os dados, dois em cada cinco anfíbios vivem sob ameaça de desaparecer nas próximas décadas. Nos últimos 18 anos, entre 2004 e 2022, aproximadamente 300 espécies foram completamente varridas do planeta e as mudanças climáticas foram a principal ameaça para ao menos 39% destas espécies. Número que pode aumentar à medida que as condições climáticas se tornam ainda mais desfavoráveis.
As alterações no clima global são especialmente nocivas para os anfíbios devido às suas características fisiológicas e a pouca resistência que apresentam diante das mudanças ambientais drásticas. Isso faz deles as primeiras vítimas em cenários de degradação ambiental, que impactam a sobrevivência de 93% das espécies analisadas. Eles também são vulneráveis às doenças, como as infecções causadas pelo fungo quitrídio, que matou espécies de anfíbios na América Latina, Oceania e América do Norte.
O estudo sugere que as salamandras são o grupo de anfíbios mais ameaçados. Essa constatação vem causando preocupações na comunidade científica, que busca alternativas para evitar a entrada de uma doença mortal chamada Batrachochytrium salamandrivorans (Bsal), encontrada na Ásia e na Europa, nas Américas.
As estimativas apresentadas no estudo servem de atualização para a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que em 2004 revelou pela primeira vez o genocídio dessas espécies, além de estabelecer uma base de dados para monitorar tendências e medir os impactos de unidades de conservação. “Os anfíbios estão desaparecendo mais rápido do que conseguimos estudá-los”, disse Kelsey Neam, um dos principais autores do artigo da Nature, em nota. “Mas a lista de razões para protegê-los é longa, incluindo o seu papel na medicina, no controle de pragas, alertando-nos para as condições ambientais e tornando o planeta mais bonito”.