Canudo de papel? Não é tão sustentável quanto parece, diz estudo
Trabalho aponta que alternativa ao plástico não é ecológica como se imaginava

Em 2015, um grupo de biólogos marinhos fazia uma coleta de dados, na Costa Rica, quando encontrou uma tartaruga com um canudo de plástico de aproximadamente 10 centímetros preso em seu nariz. O vídeo foi postado na internet e logo viralizou, fortalecendo um antigo pedido de ambientalistas para abolir o uso desses objetos. Alternativas de papel se popularizaram a partir disso, mas um novo estudo sugere que elas podem não ser tão ecologicamente amigáveis quando se acreditava.
De acordo com o artigo publicado nesta quinta-feira, 25, no periódico científico Food Additives and Contaminants, a maioria dos canudos de papel e bambu comercializados na Europa contém Fluorosurfactantes (PFAS), substâncias sintéticas pertencentes a uma classe conhecida como produtos químicos eternos, por demorarem milênios para serem degradadas na natureza.
Um estudo com marcas americanas já havia apontado a presença dessas substâncias e, agora, isso também foi evidenciado em 27 das 39 marcas europeias analisadas. Os químicos foram encontrados em 90% dos canudos de papel, 80% dos de bambu, 75% dos de plástico e 40% dos de vidro. Os objetos de aço foram os únicos que não apresentaram contaminação.
Um total de 18 substâncias diferentes foram encontradas, sendo a mais comum delas o Ácido perfluoro-octanoico, um químico banido mundialmente em 2020. Entre as outras 17, as de cadeia super curta foram as que mais preocupam os pesquisadores, porque são muito solúveis em água, podendo se diluir na bebida e serem ingeridas pelos consumidores.
Os pesquisadores ressaltam que isso não é, necessariamente, um sinal de alarme. Como a maioria das pessoas só usa esses objetos esporadicamente, a contaminação pode ser muito baixa, mas há um porém. “Pequenas quantidades de PFAS, embora não sejam prejudiciais por si só, podem aumentar a carga química já presente no corpo”, afirma o cientista ambiental e co-autor do artigo, Thimo Groffen.
Essas substâncias são utilizadas em muitos produtos, como roupas e canetas, pois conferem resistência a água ou a temperatura, por exemplo. Nos canudos, eles podem ser utilizados para impermeabilização, embora isso ainda não esteja claro. O problema, no entanto, é que essas moléculas, além de acumularem na natureza e no corpo humano, podem ser tóxicas para o meio ambiente, já tendo sido previamente associada a condições médicas como aumento do colesterol, resistência à vacinas e dano hepático.
Mais estudos precisam ser feitos para entender o tamanho desse impacto na natureza e o quanto dessas substâncias são ingeridas durante o uso desses objetos. “A presença de PFAS em canudos de papel e bambu mostra que eles não são necessariamente biodegradáveis”, afirma Groffen. “Não detectamos nenhum PFAS em canudos de aço inoxidável, então aconselho os consumidores a usarem esse tipo de canudo – ou simplesmente evitarem o uso no geral.”