Dia das Mães: Assine por apenas 5,99/mês

Brasileira é 1ª latino-americana a dirigir um dos mais respeitados jardins do mundo

Lúcia Lohmann vai comandar o Missouri Botanical Garden

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 fev 2025, 08h00

Os jardins botânicos têm uma longa história, que remontam a civilizações antigas habituadas a cultivar plantas para fins medicinais, ornamentais e econômicos. O primeiro historicamente reconhecido foi criado em Pádua, na Itália, em 1545. Com o tempo, evoluíram para se tornarem centros de pesquisa científica, educação e conservação da diversidade vegetal. Assim como os museus e as bibliotecas, são fundamentais para entender o mundo como o conhecemos. O botânico italiano Stefano Mancuso, figura de relevo no mundo científico, defensor de uma maior apreciação do mundo vegetal e de sua inescapável inteligência, encoraja a ver os herbários não apenas como coleções esteticamente agradáveis, mas como espaços dinâmicos para refletir sobre a natureza e o futuro. Hoje, instituições centenárias como o Jardim Botânico de Nova York, criado no fim do século XIX, e o vistoso Kew Gardens, de Londres, surgido no século XVIII (ali onde o neurologista Oliver Sacks disse ter tido uma epifania ao ver pela primeira vez uma vitória-régia amazônica), são alvos de imenso respeito.

Os jardins pontuam a geopolítica. Um dos mais antigos do planeta, o Botânico do Rio de Janeiro, criado em 1808 pelo príncipe regente português dom João VI para aclimatar espécies vegetais originárias de outras partes do mundo, era palco de poder da metrópole, capaz de fazer vicejar pelas bandas tropicais de cá o que germinava nos lados temperados de lá, na Europa. Agora, em bonita parábola, uma brasileira, Lúcia Lohmann, de 50 anos, atravessou o oceano, rumo ao norte, convidada a cuidar de uma joia da coroa americana, o mais do que centenário Missouri Botanical Garden. Ela é a primeira mulher latino-americana à frente da instituição. Com um acervo de 8 milhões de exemplares vegetais provenientes de todos os continentes e uma equipe de cientistas de 35 países, o espaço cuidado com esmero vai muito além de terreno de lazer para crianças e adultos e contemplação. “Nós temos a responsabilidade de atuar como guardiões da biodiversidade”, disse Lohmann a VEJA.

LONDRES - O Kew Gardens britânico: desde sua criação, em 1759, contribui para a manutenção de espécies raras
LONDRES - O Kew Gardens britânico: desde sua criação, em 1759, contribui para a manutenção de espécies raras (Danaiel Case/KEW GARDENS/.)

A cientista brasileira assumiu a presidência do Botanical Garden em janeiro, “depois de uma extensa busca internacional”, conforme anunciou o comunicado oficial de sua nomeação. Sob sua responsabilidade estão a catalogação e preservação de espécies, a formação de novos profissionais e a articulação entre diferentes frentes de pesquisa em defesa da variedade da flora. Para a pesquisadora, a nomeação mata a saudade de um lugar fundamental em sua trajetória acadêmica, em cujas alamedas ela desenvolveu parte de seus estudos. “De certa forma, é como reencontrar um velho conhecido”, diz ela.

Antes de carimbar de vez o passaporte, Lohmann construiu uma carreira de mais de duas décadas como professora na Universidade de São Paulo, onde também se formou em ciências biológicas. Na lida para detalhar espécies supostamente inéditas e iluminar outras já conhecidas, ela viveu aventuras. Em uma das incursões, chegou a quebrar seis costelas ao cair de uma árvore. Na Reserva Ducke, no Amazonas — uma das áreas mais bem catalogadas da floresta —, estimava-se a existência de apenas quinze espécies de ipês. Após um ano de trabalho minucioso, conseguiu ampliar a lista em dez vezes, identificando mais de 150.

Continua após a publicidade
NOVA YORK - Herbário de 1891: um pedaço de floresta na metrópole
NOVA YORK - Herbário de 1891: um pedaço de floresta na metrópole (NEW YORK BOTANICAL GARDENS/.)

O entusiasmo de assumir uma posição inédita ganha contornos ainda mais simbólicos sob a administração de Donald Trump. É simples: o republicano não esconde a ojeriza com o conhecimento e tem apreço por desdenhar dos estudos associados à proteção da biodiversidade. “Apesar do atual contexto, apesar dos entraves políticos, a ciência será sempre instrumento de transformação”, diz ela. Lúcia Lohmann é uma planta rara.

Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.