Brasil vai começar a processar imagens do céu captadas por supertelescópio, em projeto com os EUA
Fotos de alta definição do Hemisfério Sul passarão por análise científica de pesquisadores baseados em Petrópolis a partir de junho

Uma iniciativa global de mapeamento inédito do céu do Hemisfério Sul por dez anos começará a produzir imagens em junho, a partir de um supertelescópio no Chile. Fotos de alta definição do megaprojeto, chamado LSST (Legacy Survey of Space and Time) e liderado pelos EUA, serão processadas no Brasil pelo LIneA (Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia), criado em 2006 e que acaba de receber R$ 7 milhões da Finep para completar a instalação de seu Centro Independente de Acesso a Dados (IDAC, na sigla em inglês).
A estrutura será responsável por processar, analisar e distribuir dados do supertelescópio montado no Observatório Vera C. Rubin, no Chile, e que começará a operar no dia 16 de junho. Na mesma data, ocorre o evento internacional Rubin First Look, organizado pelos Estados Unidos, com participação simultânea do Brasil. O IDAC brasileiro está em processo de expansão para receber os dados de imagens nunca captadas no mundo. O centro, em Petrópolis, fica nas dependências do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), que comanda o Santos Dumont, maior supercomputador científico público do país e um dos mais potentes do mundo.
A ideia é que o IDAC processe um volume de dados astronômicos jamais visto: serão centenas de petabytes ao longo de uma década, com até 37 bilhões de objetos celestes catalogados. Cerca de 170 pesquisadores brasileiros estarão envolvidos no projeto.

Supertelescópio no Chile
Com oito metros de diâmetro, o supertelescópio tem a maior câmera digital já construída no mundo — uma gigante de 3,2 gigapixels, com três toneladas e o tamanho de um Volkswagen. Capaz de gerar mais de 200 mil imagens por ano, o equipamento promete revolucionar a forma como observamos o universo. Diante da complexidade do trabalho de análise de um volume inédito de dados, centros de processamento, como o do Brasil, serão essenciais para analisar cada detalhe dessa prospecção pelo céu.
O trabalho vai permitir avançar nos conhecimentos sobre a energia escura, que compõe a maior parte do universo, e outros corpos celestes pouco estudados. Estima-se que serão descobertos ao menos 17 bilhões de estrelas e 20 bilhões de galáxias, além de objetos difíceis de serem observados com os instrumentos tradicionais.
Pelo acordo firmado com os Departamento de Energia (DOE) dos Estados Unidos, o LIneA se comprometeu a operar uma estrutura capaz de:
armazenar pelo menos 5 petabytes de dados; manter um banco de dados com capacidade de 500 terabytes para uso simultâneo de 50 usuários; e desenvolver softwares de alta performance para análise científica em tempo real.
Em busca de recursos
O Brasil passa a integrar um grupo seleto de países que sediarão centros com acesso direto a esses dados — e o IDAC terá um papel estratégico na produção, análise e circulação desse conhecimento dentro do ecossistema científico nacional. O diretor do LineA, Luiz Nicolaci da Costa, trabalha agora para garantir a sustentabilidade do projeto, que ainda busca orçamento para manter e ampliar a equipe de especialistas envolvidos, como analistas de sistemas, desenvolvedores e engenheiros de softwares.
A participação brasileira no LSST depende de um orçamento de R$ 10 milhões para arcar com a fase de montagem e comissionamento do centro e manter a equipe técnica responsável pelo trabalho e que detém a memória de todo o projeto. “Precisamos também estar prontos para operar por 13 anos, oferecendo um mínimo de segurança e previsibilidade para os pesquisadores que desde o início integram o projeto. São pessoas que valem ouro no mercado e se mantêm no LIneA por comprometimento com a ciência e o país”, diz Nicolaci.