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Antibióticos usados na pecuária criaram bactérias resistentes em humanos

A colistina, um antibiótico usado por décadas em porcos e frangos, gerou cepas de E. coli mais propensas a escapar do nosso sistema de defesa

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 Maio 2023, 15h24

O uso de antibióticos para ampliar a capacidade produtiva de proteína animal levou ao surgimento de bactérias resistentes ao sistema imunológico humano. Uma pesquisa publicada no periódico científico eLife, sugere que a colistina, um antibiótico usado por décadas como promotor do crescimento de suínos e frangos na China, gerou cepas de E. coli mais propensas a escapar da primeira linha de defesa do nosso sistema imunológico. A notícia é péssima para os sistemas globais de saúde e, a longo prazo, pode causar centenas de milhares de mortes por ano. 

Atualmente, o uso de colistina como aditivo alimentar agropecuário é proibido na China e em outros países, mas essas descobertas alertam para o surgimento de significativas ameaças microscópicas representadas pelo uso descontrolado de antibióticos. O surgimento de cepas de bactérias resistentes às defesas naturais do nosso organismo e a medicamentos conhecidos tem causado uma corrida na busca por soluções por parte da comunidade científica.

 As descobertas recentes podem ter implicações diretas no desenvolvimento de medicamentos antibióticos da mesma classe da colistina, que é um antimicrobiano peptídeo, que os cientistas acreditam representar um risco particular de comprometer nossa imunidade natural. Isso porque os antibióticos microbianos são compostos produzidos naturalmente pelos organismos em sua resposta imune, que é a primeira linha de defesa contra infecções. A colistina é um medicamento, mas sua composição é quimicamente semelhante aos anticorpos produzidos naturalmente. Logo, a resistência à colistina significa uma maior resistência às nossas próprias defesas naturais, o que é pior do que a resistência a medicamentos.  

A resistência antimicrobiana já pode ser considerada uma ameaça global. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que até 2050 aproximadamente 10 milhões de pessoas podem morrer anualmente de infecções causadas por superbactérias. Há um interesse crescente na produção de antimicrobianos peptídeos semelhantes à colistina, alguns ainda mais similares aos produzidos naturalmente por nosso organismo. No entanto, os pesquisadores de Oxford, que conduziram o estudo, pedem que o desenvolvimento desse tipo de medicamento seja suspenso até que se tenha mais informações sobre os riscos envolvidos, dadas as ameaças diretas à saúde global. 

Os peptídeos antimicrobianos, incluindo a colistina, foram anunciados como uma parte potencial da solução para o aumento de infecções multirresistentes. Este estudo, porém, sugere que a resistência a esses antimicrobianos pode ter consequências não intencionais na capacidade dos patógenos de causar infecção e sobreviver dentro do hospedeiro.

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