Nesta quarta-feira, 23, em Brasília, um alerta importante sobre a devastação na região amazônica foi emitido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), unidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). No Brasil, faltam políticas públicas para a preservação do meio ambiente e modelos de desenvolvimento econômico de valorização da floresta em pé. A mensagem veio como conclusão de um estudo amplo, que registra dados sobre o aumento da emissão de gases do efeito na Amazônia e a queda vertiginosa do cumprimento das regulações ambientais.
Um dia antes da cerimônia de apresentação, a pesquisa foi publicada na renomada revista Nature, com a assinatura de 30 cientistas, a maioria de instituições nacionais, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e estrangeiras.” Essa pesquisa reforça o compromisso do Brasil com a verdade”, disse a ministra da pasta Luciana Santos, que estava presente na cerimônia. “Ela exige um compromisso ainda maior do governo.”
O laboratório de Gases de Efeito do Inpe mediu a emissão de CO2, em 2019 e 2020, e comparou com a média registrada entre 2010 e 2018. No primeiro ano, houve aumento de 89% e no segundo, 122%. Ainda nesse recorte temporal, a equipe levantou dados de cumprimento de regulações ambientais, como pagamento de multas, e de desmatamento. “A devastação da floresta foi de 82%, em 2019, e, 77%, em 2020”, diz Luciana Gatti, pesquisadora do Inpe. Também houve aumento da área queimada em 14% (2019) e em 42% (2020). Em contrapartida, as multas reduziram em 30% e 54%, assim como o pagamento das mesmas, em 74% e 89%. “É o modelo econômico da Amazônia que está por trás disso”, completou. A pesquisa destaca que, durante 2019 e 2020, a exportação de madeira aumentou em 700%, a área plantada da soja, em 68%, e a do milho, em 58%. Já o rebanho bovino cresceu 14%.
Para dar uma ideia do que significa a quantidade de emissão de CO2 registrada pela pesquisa, o Inpe levantou dados de 2015 e 2016, período de incidência do último El Niño de grande intensidade no mundo. Fenômeno natural de aquecimento de parte do Oceano Pacífico, que acontece em média a cada sete anos, ele altera ventos e precipitações e, consequentemente, leva à elevação das temperaturas e diminuição significativa da umidade do ar. Nessa época, a mudança no clima foi de tal ordem, que provocou uma série de queimadas em áreas florestais, que entrou para o registro histórico como período de grande emissão de CO2. Chama atenção o fato da quantidade de CO2 emitido entre 2019 e 2020 ser comparável com a desse período atípico de El Niño, entre 2015 e 2016. “Em 2019 e 2020, a emissão alta do carbono, não veio de queimadas, mas da alta extração de madeira”, explica Gatti.
A pesquisa destaca a urgência imediata do monitoramento e controle mais severo nessa região, uma vez que El Niño voltou a se formar, nas águas do Pacífico, em junho. Como existe chances de o fenômeno ganhar forte intensidade, aumentam as probabilidades de queimadas naturais, o que pode piorar em muito a emissão de gases do efeito estufa, que já está alta. “Estamos na batalha para o governo assumir a tarefa de zerar o desmatamento antes de 2030 e reflorestar as regiões mais críticas para impedir que a Amazônia chegue ao ponto que não se recuperar mais”, diz Gatti.