A polêmica instalação criticada pela esquerda e pela direita
Batizada de 'For Forest', criação artística na Áustria revela a incômoda beligerância de nosso tempo

A ideia não era tão ruim — e prometia fazer barulho. O curador suíço de artes plásticas Klaus Littmann levou 300 árvores, cultivadas em áreas de viveiros na Itália, na Bélgica e na Alemanha, para o Estádio Wörthersee, na Província de Caríntia, na Áustria. Batizada de For Forest, a criação tinha um objetivo: conscientizar a população da iminente possibilidade de um dia a experiência de vivenciar a floresta se tornar tão rara quanto ir a um grande espetáculo ou a uma final de campeonato de futebol. O grito de Littmann foi inspirado em uma ideia dos anos 1970, do pintor austríaco Max Peintner, que desenhara algo muito próximo do que agora ganhou vida. “E se a floresta se tornar mais um item em uma vitrine?”, indagava o pintor ao lançar o trabalho.
Tudo muito bonito, interessante e correto — até a espetacular instalação alcançar um contorno inesperado. O bosque artístico foi alvejado à esquerda e à direita do espectro político, ambos incomodados. De um lado, os conservacionistas reclamaram da iniciativa, que exigiu a derrubada de árvores nativas — e ainda houve emissões de gases de efeito estufa, num total de 55 toneladas, para transportá-las até a Áustria. No ponto oposto, extremistas de direita usaram o atual tom que permeia as discussões em torno do meio ambiente, repleto de falsas impressões, para dizer que a mostra teria uma única função: angariar votos para partidos de esquerda. Se foi isso mesmo, não funcionou: nas eleições presidenciais de 29 de setembro, saiu vitorioso o conservador Sebastian Kurz, um jovem de 33 anos que, apesar de sua postura avessa ao ambientalismo, não descarta se aliar — pasmem — com os verdes.

Em entrevista a VEJA, Littmann, que chegou a ser xingado na rua, disse estar resignado: “A instalação é uma forma de provocar pessoas a repensar opiniões. No entanto, dado o contexto político em que vivemos, é natural que tópicos como o da proteção ambiental sejam levados para o plano das discussões acaloradas”. Natural, pode até ser. É preocupante, porém, imaginar que obras de arte como a da plantação no gramado austríaco, atraente e provocativa, e não mais do que isso, acabem produzindo um novo capítulo de beligerância ideológica. Não deveria ser assim.
Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2019, edição nº 2655