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A ciência brasileira no front contra os nano e microplásticos

Pesquisadores paulistas desenvolveram diferentes tecnologias para remover esses contaminantes da água

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 dez 2024, 16h57 - Publicado em 4 dez 2024, 16h06

No início de novembro, pousou no aeroporto de São Paulo pouco mais de uma dezena de jovens pesquisadores brasileiros. Eles tinham acabado de voltar da França, onde receberam medalha de ouro numa competição global de engenharia biológica criada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). O projeto: um filtro com tecnologia emprestada das teias de aranha para conseguir remover micro e nanoplásticos da água. 

Eles já haviam recebido o prêmio na versão regional do International Genetically Engineered Machine (iGEM), como é chamada a competição, que ocorreu na Cidade do México, em maio. Agora, a ideia alcançou escalas ainda maiores. “Foi a primeira vez que o time do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) participou do iGEM global”, disse a VEJA Gabriela Persinoti, orientadora do time. “Nós conseguimos ver que estamos competindo de igual para igual com o resto do mundo.”

Mas qual a importância de remover esses pedacinhos invisíveis de plástico da água? Essas partículas foram primeiro mencionadas há duas décadas, quando não gerou muito alarde, mas uma diversidade de estudos posteriores mostraram que esses elementos estão em todos os lugares: além de serem um contaminante ambiental vastamente disseminado, também já foram encontrados em órgãos humanos, como cérebro e pulmão. 

Qual o problema dos microplásticos?

Esses elementos são tão disseminados porque essas partículas podem ter origem direta de produtos comerciais, como cosméticos esfoliantes, mas também são geradas a partir da decomposição ou do processamento do plástico convencional, inclusive na reciclagem. 

Apesar de tão disseminado, ainda faltam conclusões transparentes sobre as consequências da ingestão involuntária dos nano e microplásticos. O que as evidências mais recentes mostram, contudo, não é nada bom. “Esse material não é inócuo e ele pode estar causando efeitos que precisam ser melhor estudados”, diz Henrique Eisi Toma, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP).

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Ele explica que, além da reciclagem gerar micro e nanoplásticos, que podem funcionar como carregadoras de substância indesejáveis para dentro do organismo, as versões biodegradáveis desse material têm um perigo potencial ainda maior. Isso acontece porque esse tipo de polímero, além de gerar muitas dessas pequenas partículas, também se aderem melhor a tecidos biológicos, podendo gerar respostas inflamatórias com consequências ainda desconhecidas. 

Como remover esses microplásticos?

Toma também trabalhou em seu laboratório para tentar solucionar esse problema. Para isso, ele utiliza uma substância derivada da dopamina chamada de polidopamina. Essa nanopartícula é adesiva e magnética, o que faz com que ela capture os micro e nanoplásticos da água. Depois da captura, basta aproximar um imã do líquido para que esses contaminantes sejam removidos e a partícula possa ser utilizada novamente. 

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Essa tecnologia, que ganhou as páginas do periódico cientifico Micron, é ligeiramente distinta da desenvolvida pelos pesquisadores do CNPEM. Enquanto o método da USP é mais adequado para ser incorporado em indústrias ou sistemas de tratamento, os cientistas de Campinas desenvolveram um filtro ecológico. “No princípio nós pensamos em desenvolver essa tecnologia para sistemas de tratamento, mas quando vimos que seria difícil incorporar, adaptamos para uso doméstico, assim ele pode chegar em mais pessoas”, disse Pedro Henrique Sophia, graduando em ciência e tecnologia pela Ilum, escola mantida pelo CNPEM. 

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O aparelho, ainda em fase de prova de conceito, é baseado em um sensor e um filtro. O filtro é feito com base em uma malha de espidroína, uma das substâncias presentes na teia de aranha, e na Barbie1, uma proteína com alta afinidade por micro e nanoplásticos. Essa proteína foi desenvolvida pelos próprios pesquisadores, utilizando a tecnologia de modelagem que ganhou o Nobel de Química neste ano. Já o sensor, que também depende da Barbie1, consegue detectar a presença desses polímeros na água. “Assim é possível avaliar a eficiência do filtro”, disse Pedro Henrique Machado Zanineli, também aluno da Ilum. 

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Ambas as tecnologias, embora já desenvolvidas, ainda precisam ser lapidadas e adaptadas para que ganhem escala e cheguem aos usuários. Para isso, financiamento de agentes privados ou públicos e parcerias com indústrias que possam desenvolver o produto final serão necessárias. 

Enquanto isso, ainda não há por que se desesperar. Hoje, o tratamento feito na água de torneira já ajuda a resolver parcialmente o problema, já que a floculação é capaz de remover parte desses contaminantes. Isso não impede, contudo, o consumo por meio de águas minerais ou de outros produtos que eventualmente contenham essas partículas. 

É urgente que lidemos rapidamente com isso. Enquanto a ciência pensa em soluções e tenta compreender as consequências, a sociedade precisará decidir se continuará ou não produzindo essa quantidade massiva de plásticos.

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