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A briga pela preservação dos “hipopótamos da cocaína” de Pablo Escobar

Espécie é considerada invasora na Colômbia e há 30 anos cresce sem controle, ameaçando a biodiversidade local; pesquisadores defendem manejo rigoroso

Por Marilia Monitchele
Atualizado em 2 mar 2023, 17h37 - Publicado em 2 mar 2023, 17h23

A trama dos hipopótamos do falecido traficante colombiano Pablo Escobar está ganhando novos capítulos e o problema parece longe de uma solução. Em 1981, Escobar importou ilegalmente quatro hipopótamos, três fêmeas e um macho, de um zoológico nos Estados Unidos para fazer parte da coleção de animais exóticos de sua Hacienda Nápoles. Os animais escaparam da propriedade depois da morte do traficante, em 1993, se estabelecendo em torno do rio Magdalena e de alguns lagos ao redor. Nos últimos 30 anos, os quatro animais originais se reproduziram incontrolavelmente, transformando-se em um problema ambiental gravíssimo para o governo colombiano, ameaçando diretamente a sobrevivência de espécies nativas, como o peixe-boi das Antilhas. Atualmente, os cientistas estimam que existam aproximadamente 150 hipopótamos no país.

A nova polêmica em torno dos animais diz respeito ao posicionamento da ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad. A política provocou temores entre pesquisadores e ambientalistas ao dizer que seu ministério criaria políticas que priorizassem o bem-estar animal. Apesar de não mencionar diretamente os “hipopótamos da cocaína”, segundo a revista Nature os cientistas temem que o país priorizará a proteção, ao invés da redução da espécie invasora.

Como os animais não têm predadores naturais no país, a reprodução continua em ritmo crescente e descontrolado. Estimativas dizem que em 16 anos poderão haver aproximadamente 1500 animais e, se não houver uma política eficiente de controle, dentro de 20 anos o problema pode não ter mais solução. Uma comparação entre lagos sem hipopótamos e lagos onde a espécie passou a residir mostrou que os últimos acumulam mais nutrientes e matéria orgânica, o que favorece a proliferação de algas tóxicas. Esse tipo de crescimento pode piorar a qualidade da água e causar a morte de peixes, afetando a biodiversidade e a economia pesqueira. Além disso, estudiosos alertam para o perigo de acidentes de trânsito e ataques a pessoas causados por hipopótamos. A espécie também tem atraído traficantes de animais selvagens, que comercializam os bebês ilegalmente.

Diante desse cenário, biólogos e ecologistas defendem o manejo rigoroso da espécie, por meio do abatimento e da realocação para ambientes mais propícios e controlados, levando à eliminação da população selvagem na Colômbia. A questão, no entanto, está longe de ser simples e tem movimentado ânimos adversos, acentuando a rixa entre pesquisadores e defensores da espécie.

O problema foi reconhecido pela primeira vez ainda nos anos 2000, quando houve um esforço para a redução da população. Porém, em meados de 2009, a morte de Pepe, o hipopótamo fugitivo macho, foi amplamente repercutida e resultou no clamor ativista pelos direitos dos animais. Desde então, ecologistas denunciam a paralisia institucional na busca por soluções. Um estudo de simulação prevê que para reduzir a população a zero até o ano de 2033, cerca de 30 animais precisam ser removidos da população selvagem todos os anos e nenhuma outra ação, incluindo a castração, os erradicará, de acordo com vários cenários de manejo.

Um grupo de pesquisadores colombianos acredita que a opinião popular tem pesado mais que os dados científicos e os conhecimentos em conservação e pedem celeridade na solução da questão, pois a passagem do tempo pode piorar a qualidade de vida dos hipopótamos, do ambiente ao redor e da biodiversidade colombiana. Eles argumentam que a questão beira o descontrole e se o governo não executar um plano de manejo ético e eficaz, pequenos agricultores e pescadores afetados pela crescente população poderão tentar resolver o problema por conta própria.

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