World Press Photo 2025: fotógrafos que registraram enchentes no RS lembram momentos das tragédias
Trabalhos serão exibidos no Rio de Janeiro de 27 de maio a 20 de julho e depois seguirão para São Paulo, Curitiba e Salvador

“Só de lembrar já me dá um nó na garganta. Foi muito duro. Tive um sentimento imenso de impotência e de urgência. Ao mesmo tempo, a maioria das pessoas que conheci queriam mostrar o que viviam, os efeitos dessas enormes enchentes. Senti que precisava denunciar o que viviam”, é assim que fotógrafa Amanda Perobelli, que teve quatro registros ganhadores na premiação World Press Photo 2025, uma das maiores do mundo, se lembra dos momentos que fotografou durante as enchentes que atingiram o estado do Rio Grande do Sul, no início do ano passado. Os registros foram contemplados na categoria Reportagem, com a série “As Piores Enchentes do Brasil”, que retrata os impactos das chuvas na cidade de Canoas, uma das mais afetadas pelo desastre climático.
Com os desafios logísticos de transporte de equipamento e deslocamento em uma região majoritariamente em alerta e com bloqueios em diversas vias, o trabalho se transformou em uma verdadeira jornada. Travessias curtas passaram a durar horas. Além disso, com a implementação repentina de novos pontos de interdição, se informar com as autoridades não bastava. ” Eu passava a maior parte do tempo dirigindo por horas e horas para fazer o meu trabalho. Os caminhos e lugares que eram acessíveis mudavam de um dia para o outro”, lembra Amanda.

As fotos de Amanda foram feitas no município de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um dos locais mais atingidos pela catástrofe. Na época, pelo menos 15 mil pessoas tiveram que ser levadas para abrigos e 11 bairros foram evacuados por determinação da prefeitura. “Eu percebi a gravidade da situação quando vi todo o bairro de Mathias Velho, em Canoas, inundado. Dezenas de pessoas sendo resgatadas de suas casas, dezenas de barcos de moradores, de voluntários, bombeiros, exército, todos resgatando pessoas de apensas um bairro”, lembra.
Contemplado na categoria Individual da América do Sul, o fotógrafo Anselmo Cunha, nascido e criado em Porto Alegre, estava na cidade quando as chuvas começaram. Foi enquanto via a situação se agravar cada vez mais em sua terra natal que registrou a imagem “Aeronave em Pista Inundada”. A foto, tirada no Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capital do estado, Porto Alegre, ganhou reconhecimento nacional e internacional.
“Emocionalmente, os maiores desafios foram ver a situação em que se encontrava lugares de afeto e a preocupação com a situação de pessoas familiares que foram diretamente atingidas. O mais difícil foi manter o foco no trabalho enquanto recebia notícias em grupos de mensagens de amigos que estavam desaparecidos ou presos em seus apartamentos”, lembra Anselmo.
Com vias bloqueadas, foi do alto, de uma aeronave, que ele fez o registro. “No dia em que fiz a foto do avião, ganhadora do World Press Photo, decidi ir ao exército solicitar permissão para participar de alguma missão de sobrevoo. Após 3h de espera, finalmente havia uma aeronave disponível para me levar. No momento em que vi a cena, imediatamente pude perceber sua grandeza. Ao fazer a foto, enviei para o meu editor dizendo que havia conseguido um ótimo registro. Minha companheira gosta de lembrar que assim que voltei pra casa naquele dia, entrei pela porta dizendo que havia feito ‘a foto da minha vida”, conta.

“Eu acho que o maior aprendizado dessa história é, na verdade, a dura lição de que no contexto do aquecimento global não há quem possa sair ileso. Se a situação do planeta seguir se agravando no mesmo ritmo, logo todos seremos prejudicados. É isso que procuro representar com a foto do avião. Mesmo a estrutura que representa o que um dia já foi um ápice tecnológico, representando o sonho humano de voar, até mesmo ela foi facilmente subjugada pela força da natureza. Águas tranquilas puseram fim ao funcionamento de um motor e sua grandiosa carcaça de aço”, afirma Anselmo.
As fotos de Amanda e Anselmo, assim como todos os projetos premiados na edição World Press Photo 2025, estarão em exibição no Rio de Janeiro de 27 de maio a 20 de julho, na sede da Caixa Cultural, Rua do Passeio. A visitação pode ser feita de terça a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos e feriados, das 11h às 18h. De lá, a exibição seguirá para São Paulo, Curitiba e Salvador. A entrada é gratuita.