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União Brasil vira alvo favorito de possível reforma ministerial de Lula

'Dono' de três pastas na Esplanada, o partido entra na mira por falta de maior fidelidade da bancada ao governo em votações importantes

Por Adriana Ferraz Atualizado em 4 jun 2024, 09h40 - Publicado em 6 jan 2024, 08h00

O governo Lula passou 2023 fazendo concessões e promovendo mudanças para tentar formar uma base no Congresso. Apesar de o Palácio do Planalto ter obtido algumas vitórias importantes, a luta está longe de terminar. Uma das principais frentes de batalha junto ao Poder Legislativo envolve a complexa relação com o União Brasil. Há algum tempo a insatisfação com o partido já era visível, pois ele é “dono” de três ministérios e, aos olhos do Executivo, nunca se mostrou capaz de entregar apoio político na mesma medida. Pelo contrário. Entre as legendas consideradas da base, é a que mais atrapalha o governo. Na aprovação da reforma tributária no apagar das luzes do ano passado, um terço da bancada se comportou como se fosse de oposição. Foram dezessete os parlamentares contrários (30,5%), percentual muito superior ao registrado por outras legendas aliadas, como MDB (7%), PSD (5%), Republicanos (10%) e PP (19,5%). Isso aumentou de vez os rumores de que a sigla será alvo inevitável de uma nova reforma ministerial.

Embora estejam na composição do governo (admitem ser “donos” de apenas dois ministérios, pois consideram o da Integração e do Desenvolvimento Regional, ocupado por Waldez Góes, uma escolha da cota pessoal do senador Davi Alcolumbre), os caciques do União batem no peito dizendo que são “independentes”. Uma das explicações para a rebeldia estaria no fato de a legenda tentar mostrar força a fim de arrancar mais alguns nacos de poder. “Nós estamos colaborando, queremos que o governo dê certo”, diz o presidente nacional, Luciano Bivar. “Mas, claro, todo o partido quer ser ouvido. Estamos aqui para isso.” O comportamento errático tem a ver ainda com o fato de que parte da bancada é bolsonarista e, além de marcar pontos contra Lula, alimenta o sonho de ter uma candidatura de oposição em 2026 (o governador goiano Ronaldo Caiado, integrante da sigla, tem se apresentado como “presidenciável”).

Oficialmente, a gestão petista nega qualquer pretensão de mexer na composição das pastas, mas não esconde a insatisfação com a legenda, mesmo depois de fazer vários acenos a ela. Em julho, por exemplo, a fim de atender aos apelos da sigla, que defendia uma mudança no comando do Ministério do Turismo para garantir mais votos, tirou do cargo a deputada Daniela Carneiro e a substituiu pelo colega Celso Sabino. Após o resultado da recente votação da reforma tributária, Daniela ironizou o “apoio” entregue pelo partido: “Agora, a culpa é de quem?”. A conta de carregar no governo o União também é vista como desvantajosa em termos de imagem devido a episódios como as polêmicas envolvendo Juscelino Filho, ministro das Comunicações, alvo de investigações por desvios de recursos. Por essas e outras, sai ano, entra ano, e o União Brasil continua rendendo dores de cabeça ao Planalto.

Publicado em VEJA de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874

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