Trânsito mata mais que crimes violentos em nove estados
Levantamento inédito mostra que, em 2018, São Paulo foi o campeão em mortes envolvendo acidentes ao volante, seguido de Minas Gerais e Paraná
Às vésperas do mês de conscientização nacional sobre violência no trânsito, conhecido como Maio Amarelo, um levantamento mostra que as mortes em vias e estradas superaram os óbitos causados por crimes violentos, como homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte, em nove estados brasileiros. A pesquisa exclusiva foi realizada com base em dados das secretarias de segurança e do Relatório Anual da Seguradora Líder. São Paulo, Minas Gerais e Paraná lideram o ranking, nesta ordem, seguidos por Santa Catarina, Mato Grosso, Piauí, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia. Os números se referem a vítimas de acidentes de trânsito indenizadas pelo Seguro DPVAT em 2018 – um universo de aproximadamente 38.000 pessoas.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, foram registradas 5.259 mortes nos 69.114 acidentes nas rodovias federais do país no ano passado. A falta de atenção à condução encabeça a lista, com 25.765 acidentes. Outros motivos frequentes são desobediência às normas de trânsito, com 7.169 ocorrências, e velocidade excessiva, com 6.843 casos.
“Houve um aumento significativo na frota de motos, especialmente no Nordeste, onde não há fiscalização suficiente para coibir a atuação de motoristas sem equipamentos de segurança e carteira de habilitação”, explica Rodolfo Rizzotto, coordenador do movimento SOS Estradas. Em 2018, os acidentes com motocicletas foram responsáveis por 64% das indenizações pagas por acidentes fatais no Nordeste.
A única boa notícia que se extrai do relatório é que o número de mortes apresenta uma queda na comparação com 2017, ano em que foram registrados 89.547 acidentes – 30% a mais do que em 2018. Apesar da redução, porém, o Brasil ainda está distante da meta acordada com a Organização das Nações Unidas (ONU). O país havia se comprometido a cortar pela metade o número de sinistros até 2020. Em 2011, quando este acordo foi selado, a média era de 24 mortes em trânsito por por 100.000 habitantes; hoje é de 21.
Além da tragédia envolta nos óbitos, os acidentes causam impacto econômico negativo, medido a partir do prejuízo com indenizações e perda de força de trabalho produtiva – uma vez que 47% dos benefícios do seguro DPVAT são concedidos a jovens entre 18 e 34 anos, considerados economicamente ativos. Em 2017 esse montante chegou a 200 bilhões de reais, o que corresponde a cerca de 3% do PIB nacional.
Segundo Rizzoto, se o país for capaz de reduzir os acidentes de trânsitos, seriam economizados 1 trilhão de reais em uma década. “Apesar de termos diminuído o número de mortes no trânsito, nossa taxa ainda é alta. Mesmo que haja uma queda de 10.000 óbitos por ano, em dez anos vamos contabilizar cerca de 300.000 mortes no trânsito e até 3 milhões de feridos”, projeta.