Tragédia de Mariana: lama que arrasou rios ameaça o ecossistema marinho
Catástrofe provocada pelo rompimento de barragem em Minas é considerada o maior desastre ambiental do país. Rejeitos devem desaguar no mar do ES até domingo
Por Nicole Fusco
20 nov 2015, 07h12
Veja.com Veja.com/VEJA.com
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1/37 Sujos de lama, manifestantes fazem protesto no Rio de Janeiro, neste domingo (29) (Pilar Olivares/Reuters)
2/37 No centro de Colatina (ES), o rio Doce amanheceu com suas águas misturadas com lama, após a chegada dos rejeitos de minério vindos de Mariana (MG) (Fabio Braga/Folhapress)
3/37 No centro de Colatina (ES), o rio Doce amanheceu com suas águas misturadas com lama, após a chegada dos rejeitos de minério vindos de Mariana (MG) (Fabio Braga/Folhapress)
4/37 A DigitalGlobe divulgou nesta quarta-feira (11), pela primeira vez, imagens de satélite de altíssima resolução da região do desastre em Mariana (DigitalGlobe/Divulgação)
5/37 A cidade de Barra Longa está tomada pela lama, neste domingo (8), após o rompimento de duas barragem de rejeito da mineradora Samarco, entre os municípios de Mariana e Ouro Preto. As barragens ficam a cerca 60 km de Barra Longa (Ricardo Moraes/Reuters)
6/37 Homem que trabalha no resgate de vítimas é fotografado no distrito de Bento Rodrigues, coberto de lama devido ao rompimento da barragem de rejeito da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais (Ricardo Moraes/Reuters)
7/37 Cachorro senta nos destroços de uma casa no distrito de Bento Rodrigues, que foi inundado por lama após o rompimento da barragem de rejeito da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais (Ricardo Moraes/Reuters)
8/37 A cidade de Barra Longa está tomada pela lama, neste domingo (8), após o rompimento de duas barragem de rejeito da mineradora Samarco, entre os municípios de Mariana e Ouro Preto. As barragens ficam a cerca 60 km de Barra Longa (Ricardo Moraes/Reuters)
9/37 A cidade de Barra Longa está tomada pela lama, neste domingo (8), após o rompimento de duas barragem de rejeito da mineradora Samarco, entre os municípios de Mariana e Ouro Preto. As barragens ficam a cerca 60 km de Barra Longa (Christophe Simon/AFP)
10/37 A cidade de Barra Longa está tomada pela lama, neste domingo (8), após o rompimento de duas barragem de rejeito da mineradora Samarco, entre os municípios de Mariana e Ouro Preto. As barragens ficam a cerca 60 km de Barra Longa (Christophe Simon/AFP)
11/37 A cidade de Barra Longa está tomada pela lama, neste domingo (8), após o rompimento de duas barragem de rejeito da mineradora Samarco, entre os municípios de Mariana e Ouro Preto. As barragens ficam a cerca 60 km de Barra Longa (Ricardo Moraes/VEJA)
12/37 Voluntários da Cruz Vermelha ajudam às vítimas do rompimento da barragem de rejeito da empresa de mineração Samarco, no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), neste domingo (08) (Christophe Simon/AFP)
13/37 Bombeiros trabalham no resgate de animais presos em meio a lama após o rompimento de barragens de rejeitos da mineradora Samarco no Distrito de Bento Rodrigues, no interior de Minas Gerais (Ricardo Moraes/Reuters)
14/37 Barreira da mineradora Samarco se rompeu no distrito de Bento Rodrigues, entre Mariana e Ouro Preto, no interior de Minas Gerais - 05/11/2015 (Reprodução/TV Globo)
15/37 O rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco que causou uma enxurrada de lama e inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na tarde desta quinta-feira (5), são alojadas no Ginásio Arena, no bairro Jardim dos Inconfidentes (Ricardo Moraes/Reuters)
16/37 Vista dos estragos na região onde barragens de contenção de rejeitos da mineradora Samarco Fundão se rompeu na tarde desta quinta-feira (5), no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), no interior de Minas Gerais. A enxurrada de lama inundou e destruiu várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (Eugênio Moraes/Hoje em Dia/Folhapress)
17/37 Estragos causados em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, em Minas Gerais, que foi atingido por rejeitos de mineração depois de rompimento de duas barragens da empresa Samarco. O distrito tem aproximadamente 600 moradores (Márcio Fernandes/Protegido: Estadão Conteúdo)
18/37 Bombeiros trabalham no resgate de animais presos em meio a lama após o rompimento de barragens de rejeitos da mineradora Samarco no Distrito de Bento Rodrigues, no interior de Minas Gerais (Christophe Simon/AFP)
19/37 Vista dos estragos na região onde barragens de contenção de rejeitos da mineradora Samarco Fundão se rompeu na tarde desta quinta-feira (5), no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), no interior de Minas Gerais. A enxurrada de lama inundou e destruiu várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (Ricardo Moraes/Reuters)
20/37 Pessoas ajudam com doações para a população afetada pela enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, no interior de Minas Gerais (DOUGLAS MAGNO/AFP)
21/37 O rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco que causou uma enxurrada de lama e inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na tarde desta quinta-feira (5), são alojadas no Ginásio Arena, no bairro Jardim dos Inconfidentes (Christophe Simon/AFP)
22/37 Pessoas ajudam com doações para a população afetada pela enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, no interior de Minas Gerais (Douglas MAGNO/AFP)
23/37 Vista dos estragos causados pelo rompimento da barragem de rejeito da empresa de mineração Samarco, no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) - 05/11/2015 (Hugo Cordeiro/Agência Nitro/Protegido: Estadão Conteúdo)
24/37 Ginásio de Mariana (MG) recebe doações para as vítimas do rompimento da barragem de rejeito da empresa de mineração Samarco. Voluntários trabalham na preparação do material que será enviado às vítimas (Luiz Costa/Hoje em Dia/Folhapress)
25/37 Família senta em um abrigo em Bento Rodrigues, distrito de Mariana atingido pela enxurrada de lama após o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, em Minas Gerais (Ricardo Moraes/Reuters)
26/37 Mulher que ficou desabrigada após o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco que causou uma enxurrada de lama e inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na tarde desta quinta-feira (5), aguarda notícias da filha de 17 anos, no Ginásio Arena, no bairro Jardim dos Inconfidentes (Cristiane Mattos/Futura Press/Folhapress)
27/37 Vista de área atingida pela enxurrada de lama após rompimento de barragem de rejeitos da mineradora Samarco, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), na manhã desta sexta-feira (6). O acidente aconteceu nesta quinta-feira (5) e inundou várias casas. Cerca de 2 mil pessoas foram atingidas diretamente pela tragédia e precisarão deixar suas casas (Ricardo Moraes/Reuters)
28/37 Famílias que tiveram que deixar suas residências após o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco que causou uma enxurrada de lama e inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na tarde desta quinta-feira (5), são alojadas no Ginásio Arena, no bairro Jardim dos Inconfidentes (Cristiane Mattos/Futura Press/Folhapress)
29/37 O rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco que causou uma enxurrada de lama e inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na tarde desta quinta-feira (5), são alojadas no Ginásio Arena, no bairro Jardim dos Inconfidentes (Ricardo Moraes/Reuters)
30/37 O rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco que causou uma enxurrada de lama e inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na tarde desta quinta-feira (5), são alojadas no Ginásio Arena, no bairro Jardim dos Inconfidentes (Ricardo Moraes/Reuters)
31/37 Vista de área atingida pela enxurrada de lama após rompimento de barragem de rejeitos da mineradora Samarco, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), na manhã desta sexta-feira (6). O acidente aconteceu nesta quinta-feira (5) e inundou várias casas. Cerca de 2 mil pessoas foram atingidas diretamente pela tragédia e precisarão deixar suas casas (Ricardo Moraes/Reuters)
32/37 Famílias que tiveram que deixar suas residências após o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco que causou uma enxurrada de lama e inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), na tarde desta quinta-feira (5), são alojadas no Ginásio Arena, no bairro Jardim dos Inconfidentes (Cristiane Mattos/Futura Press/Folhapress)
33/37 Ginásio de Mariana (MG) recebe doações para as vítimas do rompimento da barragem de rejeito da empresa de mineração Samarco - 05/11/2015 (Lucas Prates/Hoje em Dia/Protegido: Estadão Conteúdo)
34/37 Vista dos estragos causados pelo rompimento da barragem de rejeito da empresa de mineração Samarco, no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) - 05/11/2015 (Hugo Cordeiro/Agência Nitro/Protegido: Estadão Conteúdo)
35/37 Barreira da mineradora Samarco se rompeu no distrito de Bento Rodrigues, entre Mariana e Ouro Preto, no interior de Minas Gerais - 05/11/2015 (Reprodução/TV Globo)
36/37 Vista dos estragos causados pelo rompimento da barragem de rejeito da empresa de mineração Samarco, no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) - 05/11/2015 (Hugo Cordeiro/Agência Nitro/Protegido: Estadão Conteúdo)
37/37 Barreira da mineradora Samarco se rompeu no distrito de Bento Rodrigues, entre Mariana e Ouro Preto, no interior de Minas Gerais - 05/11/2015 (@dudubarbatti/Instagram)
Pelos cálculos do Ibama, a avalanche de lama que riscou do mapa o distrito de Bento Rodrigues depois do rompimento da barragem da Samarco na cidade mineira de Mariana terminará seu percurso nesta sexta-feira, no mar do Espírito Santo. Como a chegada dos rejeitos de mineração ao Oceano Atlântico depende do traçado do leito do rio, a velocidade pode variar – e adiar o fim do trajeto para domingo. É apenas uma questão de tempo, contudo, para que os incalculáveis prejuízos ambientais já provocados pela tragédia de Mariana atinjam também a vida marítima. E transformem praias capixabas em um mar de lama.
Especialistas ouvidos pelo site de VEJA afirmam que os prejuízos ambientais da tragédia são ‘irreparáveis’ – o impacto do desastre sequer pôde ser medido em sua totalidade quase quinze dias depois do rompimento das barragens. Como o Rio Doce deságua no Atlântico, a expectativa é que a lama se espalhe por seis quilômetros no mar, o que vai afetar os manguezais e as terras que cercam a desembocadura do rio, usadas para desova e reprodução das espécies. Além disso, os segmentos de lama vão afetar de duas formas o ecossistema marinho: sufocando os organismos que formam a base da cadeia alimentar, como os mexilhões, ou impedindo a penetração da luz solar, essencial para a fotossíntese de organismos como os fitoplânctons, que servem de alimento para os animais.
O mesmo aconteceu ao longo do leito do Rio Doce – dezenas de espécies morreram asfixiadas pela lama. Mais grave: como a tragédia de seu justamente na época de reprodução dos peixes, as espécies mortas estavam lotadas de ovos. Isso pode provocar desequilíbrio na natureza em longo prazo, já que algumas espécies podem ser extintas.
Apesar da importância desses rios – o Doce é a quinta maior bacia hidrográfica brasileira – não havia, antes da tragédia, uma relação das espécies que habitavam o rio. Por isso, não será possível saber quais delas deixaram de existir por causa do desastre. “Sem peixes, sem invertebrados, sem sapos, rãs, pererecas, cobras ou pássaros, os insetos da região não terão predadores, o que vai gerar pragas”, prevê o biólogo e pesquisador André Ruschi, diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, de Aracruz (ES).
Outro temor dos ambientalistas é o que essa lama chegue ao recife de corais de Abrolhos, a 250 quilômetros da costa do Espírito Santo. Se isso ocorrer, os rejeitos vão arrasar a fauna e a flora da região, que possui a maior biodiversidade do Brasil. Contudo, estudos do Ibama descartam esse risco até o momento. Para conter os danos e evitar que uma grande quantidade de rejeitos contamine o Atlântico, o Ibama informou que adotou três medidas: utilização de floculantes, para fazer com que os sedimentos que estão na superfície afundem, de forma a permitir a passagem de água limpa; a instalação de diques na barragem de Santarém, para evitar que as águas das nascentes fiquem sujas, e o uso de barreiras de contenção das áreas de estuário, ambiente de transição entre mar e rio, para fazer com que o material que fica na superfície não atinja os manguezais.
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Se a correnteza do mar estiver mais forte do que a onda do Rio Doce, ele mesmo pode se limpar dos rejeitos de minério. Caso contrário,eles ficarão concentrados próximos à costa. No verão, a tendência é o mar jogar os rejeitos para a praia. “Aí vai se tornar um mar de lama”, alerta David Zee, professor de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Ambientalistas montaram ainda uma força-tarefa para retirar os ovos de tartaruga que estão próximos à foz do Rio Doce, e, assim, reduzir os possíveis impactos dos rejeitos para as espécies que vivem no local. No Espírito Santo, onde a lama chegou no início desta semana, os Ministérios Públicos Federal e Estadual criaram a operação Arca de Noé, para evitar a extinção das espécies que vivem no leito do rio. Com apoio de pescadores da região, todos os peixes encontrados foram retirados e levados para locais previamente definidos.
Os prejuízos ambientais também se estendem para o solo dos distritos pelos quais os rejeitos de minério passaram. Segundo Marcus Vinicius Poliganano, coordenador do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a terra ficou “totalmente infértil”. Ele explica que a lama não tem matéria orgânica que possibilite vida – e que não há meio de remover a quantidade de rejeitos no solo. “Acho que Mariana vai ficar sempre na historia do Brasil e do mundo como uma cicatriz. Será sempre um alerta de que a gestão ambiental não pode ser uma agenda secundária”, criticou.
Até agora, a Samarco firmou um acordo com o Ministério Público Federal e o Ministério Público de Minas Gerais que estabelece o pagamento de 1 bilhão de reais para o custeio de medidas preventivas emergenciais, de contenção de danos e também para o pagamento de indenizações. A empresa também foi multada em 112 milhões de reais pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) de Mariana e em 250 milhões de reais pelo Ibama. O retrospecto, contudo, é desanimador: de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), das multas aplicadas pelo Ibama entre 2009 e 2013, apenas 1,76% foi pago.