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Todos os meus pacientes foram abusados, diz defensora da ‘cura gay’

Psicóloga que foi à Justiça para praticar reorientação sexual afirma que 100% dos homossexuais que atendeu tiveram traumas na infância e adolescência

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 16 out 2017, 18h04 - Publicado em 16 out 2017, 16h54

Um mês após a Justiça Federal ter concedido uma liminar que autoriza psicólogos de todo o país a promover a terapia de reorientação sexual para gays e lésbicas, a psicóloga e missionária evangélica Rozângela Alves Justino falou com exclusividade a VEJA sobre as razões que a levaram a ter encabeçado, com 22 colegas, a ação judicial  pedindo a suspensão da resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que proíbe os profissionais de prestar esse tipo de atendimento, já que a homossexualidade não é considerada doença pela Organização Mundial da Saúde desde 1990.

Rozângela, que não havia dado entrevista após a polêmica, só concordou em falar com VEJA por e-mail. Ela afirma que 100% dos pacientes homossexuais que ela já atendeu em seu consultório sofreram abusos na infância ou na adolescência. Não respondeu quando foi questionada se considera a homossexualidade uma doença e disse que não monitorou seus pacientes após o tratamento porque o CFP não permitia. Ela também afirmou ser vítima de perseguição do movimento gay e da imprensa. Leia a entrevista:

Por que, depois de mais de dez anos, a senhora e um grupo de psicólogos resolveram entrar com a ação pedindo a suspensão da resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia?

Eu apenas me defendia das ações no Conselho Federal de Psicologia que buscavam cassar meu registro. No entanto, após um grupo de psicólogos relatar, minuciosamente, a situação da resolução para o advogado [Leonardo Loiola, que representa o grupo], ele nos orientou a entrar com ação popular. Os principais pontos são o direito à liberdade científica, o direito de o paciente poder, voluntariamente, de forma reservada, buscar um profissional para atendê-lo em seu sofrimento, além do direito do livre exercício da profissão, uma vez que o CFP criou e restringiu direitos sem aquiescência do Congresso Nacional.

Como tem sido sua rotina depois que o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da Justiça Federal do DF, concedeu liminar favorável ao pedido de vocês?

Minha rotina continua a mesma de sempre, com muito trabalho, estudo e agora com as solicitações da imprensa e de mais pessoas que pedem ajuda. Não voltei a clinicar por falta de tempo.

A senhora esperava toda essa repercussão em cima da decisão judicial? Como avalia essa repercussão?

Não me preocupava com a repercussão. Nosso interesse está em que se repare essa injustiça que está aí há quase vinte anos. Sem liberdade profissional, pessoal e científica do psicólogo.

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Os principais pontos são o direito à liberdade científica, o direito de o paciente poder, voluntariamente, de forma reservada, buscar um profissional para atendê-lo em seu sofrimento, além do direito do livre exercício da profissão

sobre os motivos de ter ido à Justiça para praticar a reorientação sexual

Até pouco tempo, a senhora estava com o seu registro profissional cassado no Rio de Janeiro. Foi por isso que se mudou para Brasília?

O Conselho Regional de Psicologia cassou meu registro, e o CFP confirmou essa ilegalidade no fim do ano passado. A mudança para Brasília foi em razão da perseguição do movimento gay e, consequentemente, do fechamento dos meus consultórios devido às ameaças à minha integridade física por parte dos opositores, sem que as autoridades tivessem tomado qualquer providência para me proteger em minha fragilidade humana e condição de mulher.

A Justiça restabeleceu o seu direito de exercer a profissão, sob o argumento de que esse é o seu meio de subsistência. Pretende voltar a clinicar?

A cassação foi recente, mas não cheguei a deixar de pagar as minhas anuidades ao CRP.  Mudei de área de atividade, pois meu consultório passou a ser um lugar de risco. O cargo atual que exerço é técnico [ela é assessora parlamentar do deputado federal Sóstenes Cavalcanti, do DEM-RJ, aliado do pastor evangélico Silas Malafaia]. Não exige CRP, apenas diploma de nível superior.

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Como funciona a terapia de reorientação sexual? Quais são as técnicas usadas? Elas são referendadas por estudos científicos? Quais?

A graduação em psicologia é genérica. Os psicólogos que queiram atuar na área clínica se especializam dentro da teoria e técnica psicoterápica com as quais mais se identificam e utilizam a abordagem terapêutica com todos os pacientes, independentemente da sua queixa clínica. Em razão da resolução do CFP, essas abordagens psicoterápicas não puderam ser aplicadas para tratar pessoas que sofriam com a sexualidade egodistônica, salvo para terapia afirmativa da sexualidade com pessoas do mesmo sexo. Estudos minuciosos e abrangentes acerca dessas questões foram bem desenvolvidos e encontrados no livro Homossexualidade Masculina: Escolha ou Destino?, cujo autor, Claudemiro Soares, pesquisa essa temática há mais de vinte anos.

A senhora acredita que a homossexualidade seja uma doença?

Não vou me posicionar, pois a ação popular tem 23 autores, sendo que cada um tem uma visão científica e pessoal sobre o tema. Temos em comum o desejo de liberdade profissional, pessoal e científica e a consequente discussão de contrapontos sem censura do nosso conselho profissional.

Na sua opinião, quais são as principais razões, raízes ou causas da homossexualidade?

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Parte dessa raiz se encontra em traumas sofridos na infância e adolescência, incluindo o abuso e a violência sexual. Após a concessão da liminar, muitos estudos, que antes estavam parados, agora poderão ser analisados, pesquisados, compartilhados entre os profissionais, para o desenvolvimento científico sem a intimidação do CFP.

Todo gay foi abusado? E os que não foram, por que teriam se tornado gays?

Em minha experiência clínica, posso afirmar que 100% daqueles que procuravam o atendimento psicoterápico sofreram abuso sexual na infância ou na adolescência.

A senhora tinha mais de dez anos de profissão quando teve o registro cassado. Quais foram os resultados da reorientação sexual nesse período?

Em razão do sigilo da profissão, não estou autorizada a expor nenhum resultado, salvo se autorizado pelo paciente. Ademais, é o próprio paciente que relata se o seu objetivo foi alcançado ou não na psicoterapia.

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Em entrevistas há quase dez anos para vários veículos de comunicação, a senhora afirmou que havia “curado centenas de homossexuais”. Na ação judicial, vocês falam bastante da importância da questão científica do tratamento. Esses pacientes foram monitorados de maneira controlada e científica? Algum deles sofreu recaídas?

Os psicólogos pararam de pesquisar nessa direção. Ao longo destes anos, só foram produzidos materiais “científicos” tendenciosos, proibitivos na direção que você mencionou. Não estou respondendo a algumas questões técnicas para a imprensa, com a finalidade de evitar interpretações equivocadas. Diante da perseguição da imprensa e do CFP, não tive como acompanhar os meus pacientes, uma vez que a resolução proibia tal atividade.

Em minha experiência clínica, posso afirmar que 100% daqueles que procuravam o atendimento psicoterápico sofreram abuso sexual na infância ou na adolescência.

sobre as causas da homossexualidade

Levando em conta que é possível reorientar um paciente para que ele deixe de ser homossexual, é possível fazer o contrário, caso um heterossexual queira se relacionar com pessoas do mesmo sexo?

É possível que algumas pessoas que tenham passado por frustrações no relacionamento com a pessoa do sexo oposto possam se ver experimentando um relacionamento com pessoa do mesmo sexo e sentirem alguma forma de prazer ou de compensação. Vale ressaltar que, em se tratando de atendimento de profissional da psicologia, não cabe a ele forçar ou induzir a mudanças que o paciente não deseja, mas apenas apoiá-lo naquelas que ele mesmo pretende efetivar em sua vida.

Então, caso um homossexual a procure no seu consultório dizendo que está sofrendo com sua condição por problemas de autoaceitação, a senhora o ajudaria a superar esse sofrimento e aceitar a sua condição de gay?

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É de praxe o direito dos profissionais à objeção de consciência, independentemente de esta ser em função dos seus valores ou por não se sentirem competentes tecnicamente para atender a determinadas queixas.

Segundo o advogado de vocês, existe uma demanda reprimida de pelo menos 800 homossexuais insatisfeitos com a sua condição e que hoje são atendidos pelas igrejas. Eles já estão sendo atendidos em consultórios? Quantas consultas, em média, são necessárias para finalizar a terapia?

Na área clínica, o número de consultas depende da queixa e de cada pessoa individualmente, conforme a abordagem terapêutica do profissional. Com certeza, há uma demanda que vem sendo reprimida pela tendenciosa e desnecessária resolução 01/99 do CFP.

Por que vocês decidiram trazer o tratamento de reorientação sexual de volta para a psicologia (sendo que era proibido) em vez de continuar promovendo esses tratamentos na igreja? Qual a diferença entre tratar na igreja ou no consultório?

Porque todo profissional precisa ter a sua liberdade de trabalho sem cerceamento de direito. O psicólogo quer o resgate de sua liberdade profissional, pessoal e científica, reafirmo. Se não for legítima tal liberdade, que o Congresso Nacional delibere para que não fiquemos a reboque de um ato infralegal, que não tem representação popular.

Qual a mensagem que a senhora deixa para as pessoas que são contra a sua proposta de tratamento?

Que elas reavaliem suas ideias, uma vez que há abordagens terapêuticas na psicologia capazes de ajudar as pessoas a efetivar mudanças que elas mesmas desejam em sua vida, independentemente de estarem relacionadas à sexualidade ou a outras áreas.

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