Taxas de feminicídio cresceram mesmo com queda de homicídios
Pesquisa do Sou da Paz traz recorte da violência à mulher entre 2012 e 2020
![Ana Araujo retrata “Marias Marcadas pela Violência”. Natural de Tacaratu, no sertão pernambucano, Ana fotografou vítimas de violência doméstica no Recife, onde reside atualmente](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/alx_se_me_vejo_me_veem_-_ana_araujo-2_original.jpeg?quality=90&strip=info&w=1000&h=720&crop=1)
Estudo feito pelo Instituto Sou da Paz, em seu relatório “O papel da arma de fogo na violência contra a mulher” mostra que, embora, desde 2017, tenha ocorrido uma queda nos números de homicídios no Brasil, as taxas de feminicídios aumentaram, principalmente quando as agressões envolvem o uso de armas de fogo. A análise do instituto é entre 2012 e 2020. Entre os anos do estudo, em média 2 200 mulheres foram assassinadas.
Os dados, compilados do sistema de informações do Datasus, revelam também o perfil da maioria das vítimas: as mulheres negras. A cada dez mortas, sete são negras, as mais agredidas por armas de fogo dentro e fora de casa. “Isso mostra que há uma população já tradicionalmente afetada pela desigualdade racial e pela falta de acesso a direitos e que também é mais vitimada pela violência armada”, avalia Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
Outro tópico o qual o estudo debate é o do perfil do agressor, sendo representado, em um quarto das violências, por parceiros ou ex-parceiros. Essa proporção é similar ao dado de 27%, que representa a casa como o local no qual as vítimas são atacadas.
A pesquisa conclui que a flexibilização do porte de armas inferiu fortemente no aumento da agressão contra mulheres, decorrendo, também, à morte de muitas delas. “No cenário atual de retrocessos, é fundamental dar visibilidade à presença da arma de fogo como fator de risco da violência doméstica e familiar e do aprofundamento das desigualdades de gênero”, diz Carolina Ricardo.