Que seja, enfim, o ‘último ato’ de Rogério Andrade
Na terça-feira 29, o bicheiro foi preso em sua mansão na Barra da Tijuca
Há, no Rio de Janeiro, uma certa condescendência com os crimes atrelados ao jogo do bicho — hoje de roupa nova, debaixo de um guarda-chuva mais amplo, o dos “jogos de azar”. É como se a bandidagem, de mãos dadas com o Carnaval, fizesse parte imune da paisagem. Não pode ser assim. Na terça-feira 29, houve, enfim, um passo no bom caminho: o bicheiro Rogério Andrade foi preso em sua mansão na Barra da Tijuca. A acusação: ser o mandante da morte de Fernando Iggnácio, assassinado a tiros de fuzil em 2020. A trama familiar tem o enredo de sempre, por vezes claro, por vezes confuso, como os da Mocidade Independente de Padre Miguel, a escola de que Andrade é patrono, e sua mulher, madrinha da bateria. O acusado é sobrinho de Castor de Andrade (1926-1997), o chefão de tudo. Como não herdou o espólio da contravenção, entrou em conflito fratricida com Paulo Roberto de Andrade, o Paulinho, filho de Castor, que morreu assassinado em 1998, e com Iggnácio, genro do capo.A guerra em torno dos pontos de coleta da jogatina, além de caça-níqueis, provocou mais de cinquenta mortes, na família e na vizinhança. Rogério tinha sido preso outras duas vezes, mas ficou pouco tempo atrás das grades. Agora foi transferido para um presídio federal, de onde terá dificuldade para costurar acordo com autoridades influentes da área de segurança — um outro triste clássico do poder local. Espera-se que este seja o “último ato” espúrio da figura, para usar a expressão com a qual foi batizada a operação que o tirou das ruas, por ora.
Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2024, edição nº 2917