‘Proibido entrada de homens’: a história por trás da placa
Dona de loja de São Paulo relata sucessivos episódios de assédio; em um deles, um homem ejaculou em uma peça de roupa
O cartaz afixado na entrada da loja de roupas de Andrea Costa, 35 anos, viralizou nas últimas semanas. Entre os avisos que dividem espaço na vitrine do estabelecimento em São José dos Campos, interior de São Paulo, um chama especial atenção: “Proibido entrada de homens”. Abaixo, outra placa anuncia: “Seu pet é bem-vindo aqui”. A decisão categórica da dona dividiu opiniões nas redes sociais. A empresária, no entanto, explica que a escolha não foi arbitrária. Por causa da pandemia, a butique restringiu o acesso de acompanhantes ao local e, como um milagre, o número de assédios contra clientes e funcionárias caiu drasticamente. Assim, ela optou por manter a medida. “Doa a quem doer”, diz.
1. Por que decidiu banir homens da loja?
Tenho loja há quase 15 anos e já passei por inúmeras situações de assédio. Na hora você fica sem saber se aquilo realmente está acontecendo ou se você está ficando louca. O primeiro pensamento é: “Não é possível que um homem seja capaz de fazer isso.” Mas eles são. Resolvi dar um basta. Estamos cansadas e, se ninguém tomar a frente e der a cara à tapa, vamos continuar sofrendo. O assédio não deixa de ser uma agressão.
2. Quais foram as situações mais marcantes?
Um homem já chegou a entrar na loja, que é focada no público feminino, e pediu para provar uma peça. As vendedoras estranharam, mas deixaram. Ele foi embora calado, sem comprar nada. Quando vimos, ele havia ejaculado na roupa que levou ao provador. Também era comum homens entrarem na loja dizendo procurar um look para a namorada. Logo depois, começavam a olhar todas as vendedoras e pedir para elas provarem o look para “ver como fica”.
3. Já havia tomado outras medidas anteriormente?
Já criamos lounge com vídeo game e bebidas para que os homens se sentissem à vontade enquanto esperam as mulheres. Mesmo assim, volta e meia algum ficava “flertando” com as modelos do estúdio de fotografia, fazendo sinais obscenos.
4. Como as clientes reagiram à nova medida?
99% das mulheres aprovaram. Todas nós queremos ter um espaço em que sabemos que estamos seguras.
5. E os homens? Protestaram?
A maioria dos homens apoiou porque querem suas mães, filhas, sobrinhas, namoradas longe de perigo. Mas uma minoria, bolsonarista, começou a me atacar. Estamos sofrendo várias ameaças. Um grupo chegou a derrubar a página da loja. Outro comentou que, se eu não queria ser assediada, não deveria vender e usar roupas coladas, curtas. Não bastasse, chegou a ir pessoalmente à loja para tentar entrar. Fez um escândalo.
6. Não tem medo de ser vista como radical?
Se eu não posso acabar com o assédio do mundo, pelo menos vou fazer o que eu puder para inibir os assediadores na minha loja. Doa a quem doer, não vou me calar mais.