Os primeiros alertas e pedidos de socorro, em vídeos compartilhados nas redes sociais, já davam a dimensão da tragédia que estava por vir: ruas transformadas em rios, pessoas se agarrando onde podiam para não serem arrastadas, balcões e produtos de lojas boiando e carros sendo levados por cachoeiras de lama. Petrópolis, a Cidade Imperial, situada na movediça Região Serrana fluminense, foi devastada na tarde da terça-feira 15 por um temporal que deixou impressionante rastro de destruição e desespero. Em apenas 24 horas contabilizaram-se 80 mortos, entre eles doze corpos recolhidos na Rua do Imperador, no centro da cidade. Na encosta do Morro da Oficina, um rasgo coalhado de escombros marcava a trilha do deslizamento de terra que engoliu casas e até um prédio de quatro andares, soterrando moradores. Durante seis horas, a chuva concentrada no município registrou um acúmulo de 259 milímetros, mais do que o esperado para fevereiro inteiro. Decretado estado de calamidade pública, Petrópolis recebeu o reforço de bombeiros de outras localidades e mobilizou doações de todo o Brasil. O presidente Jair Bolsonaro, criticado no fim do ano por não interromper as férias enquanto a Bahia padecia com as enchentes, anunciou uma ida ao local assim que voltar de viagem à Europa. Mas, sem um trabalho sério e contínuo de prevenção, nem visitas nem promessas de ajuda emergencial vão resolver o drama que as chuvas de verão reprisam ano após ano em várias partes do Brasil.
Publicado em VEJA de 23 de fevereiro de 2022, edição nº 2777