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O país está doente

Quem ri da barbárie a merece

Por Manoela Miklos
15 mar 2019, 07h00 • Atualizado em 4 jun 2024, 15h38
  • O afeto é um conceito que, na filosofia, foi concebido inicialmente por Baruch Spinoza (1632-1677) e posteriormente reinterpretado pelos franceses Gilles Deleuze (1925-1995) e Félix Guattari (1930-1992). Spinoza definia o afeto como um estado da alma. Um sentimento. E dividia os afetos em três categorias: o desejo, o prazer e a dor. Para tais filósofos, em síntese, o afeto corresponde a uma mudança que ocorre simultaneamente no corpo e na mente, transformando-nos. O afeto nos mobiliza e nos faz diferentes do que éramos antes de senti-lo. Não somos os mesmos depois dele. Ele nos impacta e aumenta ou diminui nossa vontade de agir. O afeto nos muda, nos move.

    O afeto é um sentimento que transcende a individualidade. Ninguém o sente isolado, sozinho. O afeto implica afetar ou ser afetado. Nasce quando há encontro, diálogo. E é impreterivelmente transformador. Mas atenção. O afeto não nos faz obrigatoriamente melhores. Ele nos desloca, apenas.

    Na semana passada, completou-se um ano desde que Marielle Franco e Anderson Gomes foram arrancados de nós de maneira brutal e covarde. A assessora parlamentar Fernanda Chaves sobreviveu ao atentado. Como única testemunha, precisou sair do país para se proteger. Restaram as famílias, as amigas, os amigos, os amores, o eleitorado de Marielle e uma multidão de indivíduos consternados. Tiveram todos de transformar luto em luta. E brigar todo dia por respostas, por resultados de uma investigação que, até terça-feira 12, não havia trazido explicação alguma.

    E, finalmente, depois de tanto tempo, uma operação prendeu o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, denunciados por participação nos assassinatos. Uma entrevista coletiva no fim da manhã reuniu o governador do Rio, Wilson Witzel, o vice-governador Cláudio Castro e outros encarregados da investigação. Diante da imprensa, foram anunciadas as primeiras conclusões a respeito do que se passou na noite dos assassinatos. Dois dias antes do primeiro aniversário da morte da vereadora e seu motorista, as autoridades exerceram seu papel, fizeram o que tinham de fazer.

    As respostas apresentadas estão longe do que se espera. Tão ou mais importante do que saber quem matou Marielle e Anderson é saber que mandou matá-­los — e as motivações do crime. É isso que se espera das auto­ridades: que os mandantes sejam identificados. Muitas dúvidas ainda pairam sobre o caso. Mas há algo que já pode ser afirmado — o Brasil está doente. Quando brasileiras e brasileiros, ao deparar com um ato desumano e bárbaro como esse, reagem até com piadas, muitas vezes com ironias, sob o signo do prazer e não da dor, o diagnóstico não é outro.

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    O mesmo pode ser dito sobre o trágico episódio da facada no então candidato Jair Bolsonaro, a perversidade à qual foi submetida a ministra Damares em sua infância ou a morte do neto de Lula. Nossa sociedade está doente e a enfermidade é da ordem dos afetos. Falta saber se nosso estado é terminal ou se há antídoto para esse mal. Afinal, quem ri da barbárie a merece.

    Publicado em VEJA de 20 de março de 2019, edição nº 2626

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