O nosso tempo: como VEJA se tornou referência incontornável do jornalismo brasileiro
Com quase 57 anos de luta pela democracia, marca vive agora uma nova fase, em todas as mídias impulsionadas pela explosão da internet


Na convocação, em meados de setembro de 1968, em forma de anúncio publicado nacionalmente em jornais e revistas, foi como um manifesto a antecipar um tempo que nascia, naquele ano de ebulições, em que os estudantes saíram às ruas de Paris para dizer que era proibido proibir: “Você quer ser jornalista? A Editora Abril procura jovens para esta fascinante carreira. Se você acha que tem talento para escrever, apresente-se. A Editora Abril — responsável pela publicação de REALIDADE, CLAUDIA, QUATRO RODAS e uma série de outras revistas de âmbito nacional — está à procura de jovens interessados numa carreira jornalística. Procuramos homens e mulheres inteligentes e insatisfeitos, que leiam muito, sempre perguntem ‘por quê’ e queiram colaborar na construção do Brasil de amanhã. Se você tem diploma universitário (seja qual for a especialização), gosta de escrever e está com vontade de trabalhar muito numa profissão que pode lhe proporcionar grandes satisfações morais e materiais, escreva-nos dizendo quem você é, em que se diplomou, quantos anos tem, onde nasceu, seu estado civil, no que já trabalhou e no que trabalha”.

Mais de 1 800 candidatos se inscreveram e participaram da segunda etapa da seleção: o preenchimento de um questionário detalhado. Em seguida, foram realizadas cerca de 200 entrevistas em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba. No final, 100 pessoas, de todo o país, foram selecionadas e passaram a morar na capital paulista, com as despesas de viagem e estadia custeadas pela editora. Nascia, ali, a equipe inaugural de VEJA, cuja primeiríssima edição teria como data 11 de setembro de 1968. A capa era ilustrada com a foice e o martelo — símbolo ligado ao comunismo, adotado, à época, como sistema de governo pela União Soviética, China e por outros países. A reportagem principal mostrava as dificuldades dos soviéticos em propagar as ideias comunistas e manter sua influência durante a Guerra Fria contra os Estados Unidos, defensor do capitalismo. A Carta ao Leitor celebrava a estreia: “O Brasil não pode mais ser o velho arquipélago separado pela distância, o espaço geográfico, a ignorância, os preconceitos e os regionalismos: precisa de informação rápida e objetiva a fim de escolher rumos novos. Precisa saber o que está acontecendo nas fronteiras da ciência, da tecnologia e da arte no mundo inteiro. Precisa acompanhar o extraordinário desenvolvimento dos negócios, da educação, do esporte, da religião. Precisa, enfim, estar bem informado. E este é o objetivo de VEJA”.

Passados 57 anos, é compulsório dizer que o objetivo foi alcançado. VEJA faz parte da história do país. Em 2 950 semanas, incluindo esta agora, deu-se a cuidadosa construção de um caminho sustentado por dois grandes pilares: o jornalismo como rascunho da história, na definição de um veterano editor do jornal americano The Washington Post, e a permanente vigilância do poder, na defesa da livre-iniciativa e da democracia. Não por acaso, nessa longa e bela estrada, feita de muitos acertos e poucos erros — e quando errou, VEJA admitiu tê-lo feito —, houve a tradução do mundo. As revoluções, as mortes trágicas, amores e dores, o ser humano na Lua, os grandes avanços da ciência, as pandemias e as vacinas, os governantes honestos e os ladrões, a vida pública e a vida privada. VEJA fez rir. VEJA fez chorar. VEJA foi aplaudida. VEJA incomodou.

É possível narrar o tempo em que vivemos por meio das páginas da revista — e não é raro que as pessoas, ao passearem pela aventura de cada semana, relembrem momentos coletivos e individuais, como um termômetro do que fomos e do que sonhávamos ser. O que não se supôs, por óbvio, era o extraordinário salto dado pela tecnologia que nos encaminhou para a velocidade da comunicação imposta pela internet. E, também nesse aspecto, VEJA soube seguir o tempo das transformações. Temos hoje, no site e nas redes sociais, aqui e agora, para já, em qualquer circunstância, a mesma relevância inaugurada naquela primavera de 1968. O mundo mudou. VEJA também, mas sem jamais abandonar os cânones que a fizeram a mais relevante publicação brasileira.

As edições impressas, como esta que você tem em mãos, seguem sendo cobiçadas, leitura fundamental para estar bem informado, em textos sempre bem escritos e com elegância no uso dos infográficos e das fotografias de excelência — contudo, convém celebrar a extraordinária expansão para os meios eletrônicos, porque o consumo de informações já não tem fronteiras ou periodicidade, é a todo momento. VEJA e seus queridos filhotes – VEJA NEGÓCIOS, VEJA SAÚDE, VEJA SÃO PAULO E VEJA RIO — têm ativa presença no site e nas redes sociais. A plataforma VEJA+, de streaming gratuito, reúne a diversificada programação audiovisual trabalhada pelas equipes de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro — além de colaboradores pelo Brasil e pelo exterior. Destacam-se programas como o Amarelas On Air, versão digital das Páginas Amarelas, a mais celebrada seção da imprensa brasileira. A atração já recebeu no estúdio personalidades do mundo da política, como o ministro do STF Gilmar Mendes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Entrevistas também marcam o Ponto de Vista, live que recebe colunistas e convidados para comentar as notícias do dia (terças e quintas, às 12h). Resumo da semana, Os Três Poderes (sextas, às 12h) abre espaço para discussões aprofundadas sobre os temas incontornáveis em evidência. A coluna Gente exibe conversas com personalidades, toda segunda às 10h. VEJA NEGÓCIOS e VEJA SAÚDE também oferecem fascinante cardápio televisivo, digamos assim, porque o nome do jogo é outro, na era da velocidade a um toque de dedo no smartphone.

A influência de VEJA, por nunca ter parado de crescer, como voz e ouvido, a levou a outros campos, na defesa da democracia brasileira. Em meio às recentes mudanças promovidas pelos Estados Unidos no comércio mundial, por exemplo, os jornalistas da revista realizaram o Fórum VEJA Brazil Insights, em maio passado, em Nova York. A ideia, sobejamente alcançada: traçar um panorama dos principais temas de política, economia e direitos que podem impulsionar as relações internacionais do Brasil e parcerias comerciais, em um momento de enfraquecimento do multilateralismo e transformação do ambiente de negócios global pelo protecionismo adotado pelo presidente Donald Trump. Com eventos dessa dimensão, VEJA dá as mãos para sua origem, aventura que começou de modo claudicante, mas virou um fenômeno editorial, vitória da perseverança. A primeira edição que chegou às bancas esgotou os 650 000 exemplares impressos. Mas o número 2 vendeu pouco mais de 200 000. É consenso que o público achou a revista sóbria, com muito texto e um excesso de aprofundamento nas informações. O estilo, inspirado nas americanas Time e Newsweek, na francesa L’Express e na alemã Der Spiegel, foi considerado sofisticado demais para o gosto local.
Naquele início, VEJA deu prejuízo. Muito prejuízo. Mas, com o passar dos anos, a história provou que a Abril estava certa e a publicação se consolidou como a maior do segmento no Hemisfério Sul. Algumas de suas reportagens históricas (veja na pág. ao lado) ajudaram a pavimentar a luta pela correção, contra a corrupção, contra o preconceito, em nome da liberdade de opinião. Vale, portanto — na dinâmica do digital, nas edições impressas —, relembrar outro trecho daquela mensagem inaugural, o primeiro passo de um edifício: “Devemos esta revista — em primeiro lugar — aos milhões de leitores que através dos anos têm prestigiado nossas publicações. Às classes governantes, produtoras, intelectuais que reclamaram da Abril este lançamento. Aos jornalistas, que com dedicação e espírito profissional o tornaram possível”. A trajetória de VEJA, longa e celebrada, está apenas começando, amparada em uma palavra: coerência.

Uma prole de respeito
Os muito bem-sucedidos filhotes de VEJA são a certeza de permanente preocupação com os interesses regionais e segmentados

Os filhotes de VEJA são respeitados como a mãe, sempre atenta aos interesses regionais e segmentados, porque a vida cotidiana não é coisa para amadores. VEJA SÃO PAULO, a Vejinha, nasceu em 1985. VEJA RIO, a Vejoca, foi lançada pela primeira vez em 1991. São publicações queridas para paulistas e fluminenses, perfeitamente adequadas aos humores de cada estado, na delicadeza de quem enxerga as saudáveis diferenças de comportamento. As edições anuais COMER & BEBER são um totem, esperadas com ansiedade por donos de restaurantes e bares e, claro, pelos consumidores. São, enfim, inescapáveis, símbolo de vigor e exigência. Como ocorre com as mais respeitadas publicações de gastronomia dos Estados Unidos e da Europa, logo viraram sinônimo de trabalho bem-feito, em que os críticos visitam os estabelecimentos sem aceitar convites, regra pétrea.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição especial nº 2950