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O mistério em torno da prisão do maior miliciano do Rio

Zinho se entregou à Superintendência da Polícia Federal no Rio, na véspera do Natal

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 28 dez 2023, 12h10 - Publicado em 27 dez 2023, 15h19

Foragido há mais de cinco anos, o miliciano Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho e considerado o criminoso mais procurado do Rio de Janeiro, foi preso na tarde do último dia 24. As circunstâncias que levaram o bandido, de 44 anos, a se entregar à Polícia Federal na véspera do Natal ainda suscitam dúvidas e geram muitas especulações. Em uma reviravolta surpreendente, o todo-poderoso da milícia carioca, que vivia cercado por um bando de guarda-costas fortemente armados e de quem teria partido a ordem para atacar e incendiar ônibus na capital fluminense em 23 de novembro – foram 35 coletivos destruídos em um único dia –, resolveu acertar as contas com a Justiça de forma pacífica.

Sua decisão de se entregar às autoridades chama ainda mais a atenção levando-se em conta o histórico da família no crime. Zinho é irmão e herdeiro no comando da maior milícia do Rio de Wellington da Silva Braga, o Ecko, que já foi também o criminoso mais procurado do estado e nunca cogitou procurar as autoridades para ser preso. Ele morreu num cerco da polícia, em junho de 2021. Outro irmão e um sobrinho de Zinho, todos ligados à milícia que domina a Zona Oeste do Rio, também foram mortos nos últimos anos, sem nunca se renderem. Pelo que se sabe até agora, a defesa de Zinho e representantes da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio estavam negociando sua prisão havia uma semana.

De acordo com declarações do secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, Zinho decidiu se entregar à polícia porque estava com medo de ser morto fora da prisão. O secretário de Segurança Pública da capital fluminense, Victor Santos, explicou outra questão que causa estranheza na negociação, que foi o fato de o bandido se entregar na sede da Polícia Federal carioca, ao invés de ir a uma unidade da Polícia Civil, o que seria o normal. Segundo ele, isso foi uma “questão estratégia” e fez parte do acordo “onde todos os atores acharam por bem que seria um local neutro”. Segundo as autoridades envolvidas, o governador do Rio, Cláudio Castro, teve conhecimento de toda a negociação.

O miliciano, ontem, dia 26, teve uma audiência de custódia no Tribunal de Justiça do Rio – ocorrida de forma virtual – e foi mantida sua prisão. O chefe da organização criminosa conhecida como “Bonde do Zinho” – a milícia já foi chamada de “Bonde do Ecko” e anteriormente “Liga da Justiça” – está isolado em uma cela de 6 metros quadrados na Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino, conhecida como Bangu 1, na Zona Oeste. Há a expectativa, no entanto, de que, por precaução, ele possa ser transferido para um presídio de segurança máxima fora do Rio. A prisão ocorreu seis dias após a Polícia Federal e o Ministério Público deflagrarem a Operação Batismo, que teve como alvo a deputada estadual Lucinha (PSD). As investigações mostraram que a parlamentar integraria o braço político do grupo paramilitar liderado por Zinho, que explora na Zona Oeste e parte da Baixada Fluminense serviços de gás, transporte, TV a cabo, entre outros, além de impor taxas aos moradores e comerciantes nas regiões que domina. O grupo também seria responsável por vários homicídios nessas regiões. 

Zinho se apresentou para ser preso na Delegacia de Repressão a Drogas (DRE), localizada na Superintendência da PF no Rio. Os termos do acordo ainda não são totalmente conhecidos. Há informações de que o criminoso estaria tentando manter seus negócios e que uma possível delação premiada faria parte da negociação. Por outro lado, há a expectativa de que a prisão do miliciano não ajude apenas no combate às milícias do Rio, mas que possa contribuir para que se chegue aos possíveis mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em 2018.

Surgidas nos anos 90, as milícias cresceram exponencialmente nas últimas décadas no Rio. Segundo um levantamento do Grupo de Estudos em Novos Ilegalismos da UFF, junto com o Instituto Fogo Cruzado, esses criminosos dominam 284,3 quilômetros quadrados da região metropolitana, o que representa um avanço de 428% em pouco mais de dez anos. Na capital, um de cada três cariocas vive em bairros com alguma atuação desses grupos armados. 

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