Há momentos em que uma discussão técnica sobre regulação econômica transcende os gabinetes de Brasília e toca no coração de milhões de brasileiros. É o que está acontecendo agora com a análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) sobre o novo modelo de associação entre clubes brasileiros, reunidos na Liga Forte União (LFU). O processo administrativo em curso pode ajudar o país a modernizar um dos seus maiores ativos culturais e econômicos.
O que está em jogo é simples de entender, mas complexo de executar. Pela primeira vez, dezenas de clubes brasileiros, ao lado de um investidor institucional, se uniram para negociar de forma conjunta seus direitos de transmissão, buscando maximizar a receita e um modelo mais equilibrado de distribuição desses recursos. Esse é o único caminho para o futebol brasileiro rivalizar com as principais ligas do mundo.
Para viabilizar esse projeto, trouxeram um parceiro investidor, a Sports Media, que aportou capital em troca de uma participação minoritária dos direitos de arena e propriedade comerciais de certos clubes. A inspiração vem de ligas europeias de sucesso, como a Premier League, onde a união fortaleceu todos os times, não apenas os gigantes.
O resultado prático já é visível: mais competição entre os veículos de mídia, mais jogos em plataformas abertas e um incremento substancial de recursos para os clubes investirem em infraestrutura e na manutenção dos seus craques. Sem essa estrutura sólida e a venda conjunta o futebol brasileiro perderá a batalha pela atenção das novas gerações, que acabará migrando sua paixão para os clubes europeus.
O novo modelo chamou a atenção do CADE, que está buscando informações para entender se a formação da LFU deveria ter sido notificada previamente ao órgão. Informações de bastidores dão conta de que a LFU tem se posicionado de forma colaborativa e transparente perante o órgão, tendo prestado todos os esclarecimentos solicitados e reconhecido a legitimidade do interesse do CADE. Segundo fontes próximas ao assunto, a associação enxerga o processo como uma oportunidade de construir, em conjunto com a autoridade antitruste, um marco de segurança jurídica para o setor. Trata-se de atitude madura e estratégica, que contrasta com a postura meramente defensiva que muitas vezes vemos em casos semelhantes.
Essa postura importa porque o Brasil precisa urgentemente de previsibilidade regulatória para atrair investimentos de longo prazo. Ao analisar o caso com a profundidade necessária e reconhecer o mérito pró-competitivo do projeto, o CADE enviará um sinal poderoso ao mercado: o país sabe diferenciar inovação de infração e está disposto a apoiar modelos que fortaleçam setores estratégicos.
O futebol brasileiro está na cara do gol, com a possibilidade de finalmente sonhar em se organizar de forma profissional, equilibrada e competitiva, seguindo exemplos globais de sucesso. Esse passo é fundamental para que os clubes tenham capacidade de investir, reter seus talentos e, assim, manter a paixão do torcedor pelos clubes brasileiros. O CADE tem o papel de ser não apenas um fiscal, mas um parceiro na construção de um futuro melhor para o esporte mais popular do país, respeitando a legislação pertinente e mantendo o rigor concorrencial. E os clubes, ao manter o diálogo aberto e a postura colaborativa, demonstram que estão prontos para marcar esse gol.
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