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O ex-jogador de futebol que virou doutor e especialista na palavra do Papa Francisco

Chrys Ferraz, que também é pastor evangélico, seguiu os passos do pai nos gramados e chegou a vestir a camisa da seleção antes de se dedicar à teologia

Por Ludmilla de Lima Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 abr 2025, 12h08

Ex-jogador de futebol, Chrys Ferraz acabou deixando os campos para trilhar outro caminho, o da academia. Doutor em teologia, Chrys se dedica, desde o mestrado, a estudar as palavras do Papa Francisco na encíclica Laudato Si’ (“Louvado Sejas”), publicada em maio de 2015 e considerada revolucionária. “Fiquei encantado com o conceito da Igreja em saída”, conta ele, sobre o chamado do pontífice para uma igreja que segue em direção aos excluídos e às periferias. “Ele também aparece falando de cultura do encontro, numa ideia de não afastar os outros, mas de respeitar e valorizar as diferenças. Pensei: esse cara é diferente”, recorda Chrys, que também tem uma história de vida bem singular. Ele é filho de Ailton Ferraz, ex-craque de times como Flamengo, Fluminense (foi ele o autor da famosa jogada que resultou no gol de barriga de Renato Gaúcho), Grêmio e Botafogo. Como o pai, se tornou jogador, só que no ataque. Passou por clubes do Brasil e do exterior, como o dinamarquês Aalborg BK, com o qual foi campeão da liga do país. Com a seleção brasileira sub-17, chegou a campeão sul-americano. 

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Chrys, que era atacante, durante partida com a camisa do Aalborg BK, da Dinamarca (Arquivo pessoal/Divulgação)

Por causa do esporte, Chrys recebeu uma educação incomum. Ele se alfabetizou no Japão e viveu na juventude em países da Europa como a Grécia. Sempre gostou de ler e sempre se interessou por culturas, tradições e religiões. Parou de jogar precocemente aos 25, por causa de uma lesão, o que abriu espaço para os estudos sobre educação religiosa e filosofia, muito influenciado pela Igreja Batista, onde cresceu. No mestrado em teologia na PUC-Rio, ele, cristão evangélico, mergulhou no texto da principal encíclica (um dos documentos da Igreja Católica mais importantes) de Francisco, grande defensor do diálogo inter-religioso. “É a primeira vez que um papa cita positivamente e como referência líderes religiosos de outras tradições. Ela escreveu uma carta que fala como encíclica para todos, mas que é uma convocação para o diálogo universal, seja entre ciências, saberes, culturas e religiões. O papa cita um líder sufi (da vertente mística do Islã), líderes da Igreja Ortodoxa… Ele apresenta fontes diversas. E isso é muito revolucionário”, explica Ferraz, que é casado e pai de duas meninas. 

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O agora teólogo na época de atacante da seleção brasileira sub-17; ele é o 2º da fileira de baixo a partir da esquerda (Arquivo pessoal/Divulgação)

No doutorado na PUC com a Universidade Católica Portuguesa, ele se aprofundou no que chama de uma “sacada” do primeiro papa latino-americano. “Num dos capítulos da Laudato Si’, ele trata do paradigma tecnocrático. Paradigma é uma mentalidade imposta que ninguém consegue quebrar, e Francisco começa a dar pistas do que ela seria”, diz o teólogo, que foi a Bordeaux estudar sobre tecnocracia com ex-alunos do pensador francês Jacques Ellul. “Esse paradigma é de que nada se faz fora da técnica. E ela não é a solução definitiva, só vai remediando. Por isso a gente vai acabando com o mundo, cujos recursos são finitos. A tecnocracia é fundamental para enxergar o mundo atual, mas é um tema pouquíssimo explorado”, ressalta o estudioso, coordenador pedagógico no Colégio Marista São José, escola católica do bairro da Tijuca, e pastor auxiliar na Segunda Igreja Batista do Recreio dos Bandeirantes, mais conhecida como Batista do Terreirão, comunidade pobre da Zona Oeste. 

A encíclica Laudato Si’ é uma das quatro escritas por Francisco, que nela critica o consumismo e alerta para os cuidados com a Terra, “nossa casa comum”. Ele chama os critãos para o combate às mudanças climáticas, que afetam, sobretudo, os pobres. “Francisco traz coisas muito puras e simples contidas no evangelho, mas que perderam valor no nosso tempo. Ele é uma mensagem viva de Deus para um tempo que não está mais ouvindo as mensagens de Deus”, diz Ferraz, que só fala de Francisco no presente. E o teólogo vai além. “Ele é alguém raro, que não exerce o poder com a força. Muito pelo contrário. Francisco é do tipo de pessoa que não morre, assim como Martin Luther King e Gandhi. Vamos falar dele para sempre”. 

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