O assassinato do menino de ‘Chiquititas’
O ator Rafael Miguel e seus pais foram mortos na tarde do domingo 9, em um bairro da Zona Sul de São Paulo
Durante dois anos, de 2013 a 2015, a telenovela brasileira de inspiração argentina Chiquititas, escrita por Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, fez imenso sucesso no SBT — e pode agora ser revista na Netflix. As aventuras e os dilemas infantojuvenis no Orfanato Raio de Luz animavam o folhetim. O ator Rafael Miguel interpretava o personagem Paçoca, um dos garotos da turma. Rafael destacara-se um pouco antes, meninote de tudo, em um comercial de televisão no qual insistia com a mãe, dentro de um supermercado, para que ela comprasse brócolis. Foi o atalho para a fama, com breve passagem na Globo, em 2006, na novela Pé na Jaca. Depois de Chiquititas, com escassas oportunidades e longe da ribalta, ele caiu em depressão.
Na tarde do domingo 9, Rafael foi vítima de um brutal assassinato (veja detalhes), aos 22 anos, em um bairro da Zona Sul de São Paulo. Na hora do almoço, ele e seus pais — João Alcisio Miguel, de 52 anos, e Miriam Selma Miguel, de 50 — chegavam à casa dos pais da namorada do ator, Isabela Tibcherani, de 18 anos, para um encontro. Foram recebidos a bala pelo pai da moça, Paulo Cupertino Matias, que os matou. Até a quinta-feira 13, o criminoso estava foragido. Isabela contou à polícia que o pai nunca aprovara o relacionamento. Dizia que Rafael, a quem jamais tinha visto pessoalmente, “não era uma pessoa do bem”. No dia seguinte ao do crime, ela fez uma despedida comovida pelo Facebook: “E ontem a gente se reencontrou, depois de meses, apenas sonhando com esse momento, contando os segundos, os dias. E aconteceu. O melhor dia das nossas vidas, de longe. Dá pra ver pelo nosso olhar, nesse momento éramos só você e eu, em meio a todas aquelas pessoas, não tinha mais nada além de nós dois. Lembra, minha vida, que a gente casou de brincadeira? Trocamos nossas alianças pra mão esquerda e dissemos ‘Pronto! Casamos!’ ”. Em março, o próprio Rafael escrevera: “Feliz primeiro ano! Eu te amo demais, mulher maravilhosa”.
A VOZ DO METAL ERUDITO
Por pouco, muito pouco, o vocalista paulistano Andre Matos não substituiu uma lenda do heavy metal, Bruce Dickinson, do Iron Maiden. Matos conquistara fama internacional com sua voz, capaz de alcançar agudos quase inacreditáveis, em bandas como Angra, Viper e Shaman. No Japão, o Angra virou sucesso inquestionável, do tamanho de outros gigantes do ruidoso gênero, ao qual Matos impôs linhas melódicas de inspiração erudita. Na infância e na adolescência estudou piano — era um exímio tecladista, até descobrir o canto. Aperfeiçoou-se em canto lírico e regência orquestral. Ele sempre alimentou um insólito caminho para o som pesado: tratou de misturá-lo a influências da tradicional música brasileira, com resultados no mínimo interessantes e muitas vezes perto da genialidade. Never Understand, de 1993, alude ao clássico baião Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Desde 2006 seguia carreira-solo. Matos tinha 47 anos. Morreu em decorrência de um ataque cardíaco, em São Paulo.
Publicado em VEJA de 19 de junho de 2019, edição nº 2639