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Novos ventos no Museu Nacional

Um novo modelo de gestão promete mais transparência no uso do dinheiro e, com isso, mais possibilidades de captação

Por Maria Clara Vieira
28 ago 2019, 18h05

Um ano após a tragédia que escancarou a inaptidão brasileira para cuidar de seu patrimônio histórico, uma boa notícia ventila pelos salões destruídos do Palácio São Cristóvão, a sede do Museu Nacional. Em coletiva realizada hoje pela manhã, a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Carvalho, anunciou a criação de um novo modelo de governança para o museu, que pretende acelerar a captação de recursos ao incluir representantes da iniciativa privada no comitê executivo. “A ideia é que este comitê decida onde será alocado o dinheiro e quais são os projetos prioritários para a reconstrução e concepção do museu, de modo que o processo seja mais transparente e as empresas e pessoas físicas tenham mais segurança para contribuir”, explicou Denise, à VEJA.

O projeto, apresentado como um “protocolo de intenções”, representa um avanço considerável na corrida pela boa gestão de instituições públicas ligadas à cultura: uma área na qual o Brasil vive no pelotão de trás. Parcerias entre o setor público e a iniciativa privada sustentam museus de renome no mundo todo. Há mais de uma década, o Museu do Louvre, em Paris, possui parcerias com empresas e fundações que contribuem anualmente para suas exposições. Só em 2017, quatro novas obras foram compradas com auxílio de patrocínio privado. O Museu D’Orsay também conta com uma rede de empresas que fazem doações para projetos específicos ou quantias anuais, que implicam na redução de 60% do valor de imposto devido pelos patrocinadores. Já em Nova York, o Museu Metropolitano de Arte conta o apoio de empresas de tecnologia para disponibilizar seu acervo online gratuitamente. Sobre o risco de ter a novidade rechaçada pelos que se opõem às parcerias da universidade com a iniciativa privada, a reitora garante que a UFRJ não perderá o protagonismo na gestão do museu. “Todos os processos de licitação e de gestão serão feitos pela casa, e a universidade detém poder de veto sobre as decisões do comitê”, esclarece.

Além da UFRJ, o modelo proposto prevê a participação da da Fundação Vale, da Unesco e de um membro externo que pode ser internacional. Já de largada, circulou pelos bastidores a notícia de que a novidade teria atraído até 200 milhões de reais para a reconstrução do museu. A reitora, entretanto, afirma que nenhum valor foi negociado com as empresas que se interessaram pela participação no comitê e o financiamento das obras. Entre elas, estão o Itaú Cultural, o banco Bradesco e a Petrobrás.  Vamos abrir um comitê de busca para escolher esse membro externo. Atualmente, o Museu Nacional conta com cerca de 68 milhões de reais para sua reconstrução, provenientes do Ministério da Educação, de emendas parlamentares e do BNDES. Com a gestão compartilhada entre diferentes entidades, o plano é garantir que as obras do museu atendam às expectativas de diferentes setores. Se levados a cabo, os novos ventos que sopram pelo Museu Nacional parecem ter, afinal, o potencial para afastar as cinzas do incêndio.


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