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Nejmi Aziz: uma socialite no xilindró

Conhecida pelas joias e roupas de luxo, ex-primeira-dama do Amazonas passou duas noites na prisão. O motivo: ela é investigada por corrupção passiva

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h17 - Publicado em 26 jul 2019, 07h00

Ela é apaixonada por frutas frescas, camarão, lagosta e champanhe. Possui também uma queda forte por vestidos de grifes italianas e joias opulentas. A personagem em questão, Nejmi Jomaa Aziz, de 49 anos, precisou mudar de figurino diante de uma, digamos assim, emergência. Por pouco tempo, diga-se. Na sexta-feira 19 e no sábado 20, ela usou o uniforme clássico de uma penitenciária: camiseta de algodão e calça de sarja. O cardápio também foi modesto: arroz, feijão, tomate e frango. Essa era a “quentinha” do Centro de Detenção Provisória Feminino, em Manaus, onde a ex-primeira-dama do Amazonas e mulher do senador Omar Aziz (PSD) dividiu a cela com outras duas detentas. Ela não tem curso superior.

Nejmi foi detida em caráter preventivo dentro de um desdobramento da Operação Vertex. Outras nove pessoas acabaram presas, entre elas três irmãos do senador. Investigados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, todos também já estão soltos. A operação fez parte da quinta fase de uma investigação iniciada em 2016 pela Polícia Federal. Segundo a Controladoria-Geral da União, foram desviados 140 milhões de reais do Sistema Único de Saúde do Amazonas ao longo desta década. Ao pedir as prisões, a PF tinha como objetivo colher provas dos crimes. O senador Omar Aziz seria beneficiário dos desvios, mas, por ter foro privilegiado, seu caso corre no Supremo Tribunal Federal. “Constatamos que Omar se beneficiou de repasses feitos à empresa Instituto Novos Caminhos, cujos contratos com o governo estadual tinham como finalidade desviar recursos públicos”, diz Alexandre Teixeira, delegado da Polícia Federal responsável pela ação. “Havia funcionários do casal Omar e Nejmi para transportar o dinheiro.” Omar Aziz foi governador do Amazonas entre 2010 e 2014. Desde 2015 ocupa uma vaga de senador pelo estado.

Nejmi foi parar na cadeia por ser suspeita de servir de “laranja” para o marido. À medida que as investigações começaram a chegar mais perto do casal, ela decidiu candidatar-se ao cargo de deputada estadual pelo Amazonas no ano passado, o que lhe garantiria imunidade. Não venceu. Na época, declarou patrimônio de 30,3 milhões de reais. Em Manaus, ninguém sabe a origem da fortuna, uma vez que Nejmi nunca teve um ofício remunerado. Ela diz dedicar seu tempo ao trabalho social. “Toda a minha evolução patrimonial é lícita e está devidamente declarada no imposto de renda das pessoas física e jurídica. Documentos e comprovantes oficiais já estão com as autoridades investigativa e judicial”, disse ela a VEJA em nota encaminhada por seu advogado, José Alberto Simonetti.

Natural de Cascavel e criada em Foz do Iguaçu, a ex-primeira-dama brilha desde o berço (Nejmi significa “estrela” na cultura libanesa). Na infância, costumava fazer compras no mercado na companhia de seu macaco de estimação. Vive em Manaus desde 1994 e Omar é seu segundo marido (o casamento ocorreu em 2006). Eles tiveram três filhos. Quando Aziz estava à frente do Executivo do Amazonas, empenhou-se em contratar globais para bombar a festa de Parintins. Os famosos atrairiam mais público e, de quebra, ela poderia ficar íntima de alguns deles. Organizou tour com artistas para visitar a floresta e o Rio Negro, sempre com tudo do bom e do melhor. A estratégia deu certo. A então primeira-dama ficou íntima da atriz Susana Vieira e do promoter David Brazil.

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Com o tempo, Nejmi decidiu passar para a frente dos holofotes e virou garota-propaganda de programas do governo do marido — de campanhas contra a dengue ao combate à violência contra a mulher. Seja em caminhadas pela paz, seja em jantares de gala para políticos, sempre gostou de usar as peças compradas nas lojas de São Paulo de grifes como Dolce & Gabbana. A paixão pelo luxo é tamanha que ficou registrada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Seu assessor pessoal, Celso de Oliveira, também investigado pela PF, efetuou uma compra de 600 000 reais na joalheria Amsterdam Sauer do Rio de Janeiro em 2013. Na época, ele ganhava 13 000 reais por mês. A polícia suspeita que Oliveira não seja o verdadeiro dono dos colares de diamantes. No dia da prisão da ex-­primeira-­dama, a polícia não encontrou um pingente sequer. De boba, ao que parece, Nejmi não tem nada.

Publicado em VEJA de 31 de julho de 2019, edição nº 2645

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