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‘Não serei só uma estatística’, diz mulher agredida com 61 socos pelo namorado

Juliana Garcia, 35 anos, fala de sua recuperação

Por Pedro Jordão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 out 2025, 08h00

Eu fui agredida violentamente pelo meu namorado dentro do elevador do condomínio onde morava, em Natal, em julho. Não tem quem tenha visto e não tenha ficado chocado. Mas passar por isso é algo muito mais difícil e doloroso do que se pode imaginar. Quando estava sendo espancada, congelei em uma posição e só pensava em me manter acordada, em não apagar, para proteger minha cabeça de algum dano maior. O vídeo da agressão tem 35 segundos, mas passamos quatro minutos ali. Acho que ele me bateu por acreditar que era meu dono e também pela sensação de impunidade que existe na sociedade para crimes assim. Eu disse a ele que tudo o que fizesse seria registrado. Falei para não fazer besteira, apontei para a câmera. Mas ele não se importou, olhou para ela e deu “tchau”. Está preso preventivamente e virou réu por causa da agressão.

Foi tudo muito rápido, mas depois vieram os medos, que são mais demorados. Primeiro, o medo do meu rosto deformado. Acabei vendo-o no reflexo dos azulejos do banheiro do hospital. Fiquei muito estarrecida, temi alguma hemorragia, ficar com sequelas, não voltar a ser o que era, porque o meu rosto estava desfigurado, enorme, estourado, cheio de edemas. Fui tomada pela angústia de ter que carregar para toda a vida as marcas daquela agressão. Metade do rosto ainda está paralisada, voltando aos poucos. Quando saí da sala da cirurgia, onde passei por um procedimento de reconstrução facial por causa das múltiplas fraturas, estava com muita sede, mas meu tônus muscular da boca não segurava um copo. Minha mãe teve que me dar água com seringa. Então tive receio de não conseguir fazer coisas básicas, como tomar algo ou piscar um olho. Temores que a gente nunca pensa em ter. Depois, já em casa, tive pavor de entrar em lugares restritos, como escadas do prédio, e não ter ninguém vendo, não ter câmeras.

Os impactos na minha vida foram enormes. Fui afastada do trabalho de promotora de vendas. Tinham assinado a minha carteira havia uma semana. Apresentei atestado de catorze dias e estou até hoje esperando o afastamento pelo INSS. Mas Deus botou a mão no meu caso, e tive quem me amparasse. A rede de apoio total das minhas amigas foi fundamental. Realizaram vaquinha on-line para eu ter como custear tudo. Fiz cirurgia pelo SUS, mas tomo remédios muito caros, faço tratamento psicológico e psiquiátrico pagos, banquei seis meses de aluguel adiantado, tudo isso com a contribuição de muita gente. Minha mãe chorou muito, ficou desesperada, deixou o emprego, largou tudo em Curitiba, onde mora, e veio cuidar de mim. Ela chegou para me dar força e saiu fortalecida ao me ver altiva.

Não tive momentos de choro ou depressão. Só fico um pouco para baixo quando sofro assédio ou ataque na internet. Resolvi assumir a defesa das mulheres como um propósito de vida. Muitas começaram a me abordar e a dizer que eu as represento. Já existe até uma lei com o meu nome, em Parnamirim (RN), e várias iniciativas legislativas pelo país inspiradas no meu caso. Mas quando eu posto sobre eventos que participei para conscientizar outras mulheres e apareço com pessoas de um partido político A ou B, as pessoas que apoiam o C vêm me atacar, destilar ódio. Mesmo tendo passado por tudo o que eu passei, há quem fale que apanhei pouco. Há comentários terríveis. Não tenho pretensão de candidatura eleitoral, acho que seria prejudicial para mim. Além da minha reabilitação física, estou passando por um processo de recuperação psicológica, mas parece que as pessoas não se lembram disso e acabam me revitimizando nas redes sociais. Mas eu não chego a chorar por isso. Porque é muito bom estar viva, estar lutando e não ter virado só uma estatística. Eu me sinto muito bem por isso.

Juliana Garcia em depoimento a Pedro Jordão

Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966

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